Políticos precisam mentir. Somos protegidos por algumas mentiras. Outras disfarçam a natureza não-cooperativa, agressiva, do mundo político. Tão comuns quanto mentiras são pequenas atitudes, pequenos eufemismos, que permitem a convivência pacífica entre Joices Hasselmans (PSL) e Paulos Teixeiras (PT).
Três exemplos são didáticos.
Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, quer transparência sobre os valores que beneficiários da anistia da ditadura militar recebem. Por enquanto, apenas os nomes são divulgados. A ideia de Damares é contra o espírito do governo em relação à transparência de dados governamentais, mas está muito bem alinhada com um revanchismo bobo – pois surgiu após Dilma Rousseff (PT) pleitear indenização. Veredito: Damares engabelou bem nessa.
O novo líder do governo se chama Major Vitor Hugo (PSL). Foi indicado ao cargo pelo presidente por motivos pessoais – sabe-se lá quais. Ontem sua assessora Carminha disparou um zap convidando líderes partidários para uma reunião. Distinguiu líderes do “apoio consistente” (presumidamente ideológico) e os de “apoio condicionado” (presumidamente fisiológico). Ninguém foi. Veredito: faltaram eufemismos, honrarias, decoros.
Por fim, Fernando Haddad (PT). O candidato derrotado nas eleições presidenciais do ano passado fez uma grave acusação a Jair Bolsonaro. Segundo Haddad, ele teria pedido pessoalmente dinheiro ilegal para fazer campanha via whatsapp. Suas palavras exatas foram: ““Nós vamos levar ao conhecimento da Justiça todos os indícios, alguns que estão nos chegando agora de reuniões que ele… de viva voz pediu apoio via WhatsApp, ou seja, ele próprio em jantares com empresários fez um pedido para que a atuação fosse feita dessa maneira, de forma ilegal”. O público espera, há mais de três meses, as provas sobre essa acusação de Haddad. Veredito: parece verídico, mas por enquanto é mentira.