O comportamento antiprofissional do Ministério Público Federal
Funcionários públicos não podem torcer contra um partido político
É raríssimo, na política, que um acontecimento seja esvaziado de nuances. O impeachment de 2016 foi golpe contra o PT? Bem, todo o rito foi constitucional e as pedaladas fiscais são, sim, crime de responsabilidade, mas o vice-presidente liderar o processo é complicado… Financiamento ilícito de campanha é justificável? Fernando Henrique Cardoso e outros líderes pensam que corrupção é lamentável, mas pedir dinheiro para a Odebrecht é “o de sempre”.
O material revelado pelo The Intercept com conversas entre procuradores da República, membros do Ministério Público Federal, é um desses casos que não tem, a meu ver, zona cinzenta. Em diversos diálogos, os procuradores mostram um comportamento antiprofissional e parcial contra o PT. (É claro que o que os membros do MPF disseram sobre o PT pode ter sido estendido a partidos como o PSDB e MDB, mas ainda não sabemos porque nem todo o material foi divulgado, segundo Glenn Greenwald.)
É simples: os procuradores não agiram de modo imparcial ao falar, em privado, sobre suas preferências políticas. A procuradora Laura Tessler, por exemplo, revoltou-se com a possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ser entrevistado na cadeia. Segundo o The Intercept, ela escreveu em um grupo de Telegram: ““Que piada!!! Revoltante!!! Lá vai o cara fazer palanque na cadeia. Um verdadeiro circo. (…) Uma coletiva antes do segundo turno pode eleger o Haddad”.
Deltan Dallagnol afirmou, conversando com “Carol PGR”, que “precisamos como país” não ter o PT de volta ao poder. Carol estava “muito preocupada com a volta do PT”, mas “[rezava] muito para Deus iluminar nossa população para que um milagre nos salve”.
Essas falas são de servidores públicos cujo trabalho estava intensamente relacionado à responsabilização de membros do PT por supostos atos corruptos. Não é preciso ser especialista em Direito Constitucional para ver que há algo de muito errado.