Por que Bolsonaro adora Olavo?
Admirar Olavo intensifica o verniz de independência que a insegurança do presidente lhe força a ter
Não são tempos normais na política. Acompanho eleições e política no Brasil desde 1998 e não lembro de presidente mostrar fascínio com alguma figura. O autointitulado filósofo Olavo de Carvalho é a exceção. Jair Bolsonaro (PSL) hoje o chamou de “ícone”, ignorando as palavras de baixo calão escritas por Olavo contra diversos generais do primeiro escalão do governo.
O presidente aprofundou o assunto. Escreveu que Olavo ajudou-o a trabalhar “contra a ideologia insana que matou milhões no mundo e retirou a liberdade de outras centenas de milhões”. Afirmou também que “sua obra em muito contribuiu para que eu chegasse no (sic) governo, sem a qual o PT teria retornado ao Poder (sic)”.
A admiração por Olavo mostra que Bolsonaro ainda não entendeu sua vitória no segundo turno contra Fernando Haddad (PT). Os delírios olavistas sobre o comunismo provavelmente contribuíram para animar um eleitorado pequeno e radical contra os desmandos do PT em 13 anos de governo. De resto, os votos para o candidato do PSL foram muito menos convictos do que se imagina.
Olavo serve a dois propósitos do presidente. É um ferrenho anti-intelectualista que dá vida a uma das ideias mais caras a Bolsonaro: a de que professores de humanas são todos de esquerda, difamam seu governo e merecem desprestígio. Admirar Olavo reforça essa mensagem. E intensifica o verniz de “independência” que a insegurança do presidente lhe força a ter. Ninguém manda no Bolsonaro, hein? Nem militares, nem Olavo, nem partidos, nem ministros. Entre as dezenas das regras democráticas com as quais o presidente tem dificuldade em incorporar, está a de que o convívio político entre representantes de poderes não é hierárquico. E críticas ao trabalho de um presidente não são sempre pessoais. Mas o ego frágil de Bolsonaro prejudica seu entendimento sobre isso.
Bolsonaro também precisa – e muito – dos militares. O bate-boca de esgoto promovido por Olavo é péssimo para o relacionamento do presidente com os generais, mas não deve ter consequências práticas. Demitir qualquer militar que Olavo xingue seria impensável, pois o presidente necessita da competência das Forças Armadas em áreas como a infraestrutura (e, em grau muito menor, em posições-chave na estrutura da Presidência). Também é difícil imaginar que militares insultados por Olavo peçam demissão por se sentirem poucos prestigiados pelo presidente.
O resultado é que prestamos atenção demais em alguém intelectualmente irrelevante, mas com importância real para o projeto político do presidente.