‘Muito boa tarde’, o terceiro post mais lido da história da coluna
Do total de 6,9 milhões de acessos, consulta do leitor Cláudio Teixeira teve 256 mil. Amanhã, o vice-campeão
O Sobre Palavras chega ao fim fazendo um balanço de seus cinco anos e três meses de convivência diária com os leitores de VEJA.com. Os 1.221 posts publicados neste período renderam 9.294 comentários feitos diretamente na página (além de um número indefinido de interações em redes sociais) e geraram vertiginosos 6,9 milhões de acessos. Começo a publicar agora o pódio dos posts mais acessados entre todos, um interessante termômetro das dúvidas de português que mais mobilizam os brasileiros nesta segunda década do século XXI: hoje o terceiro colocado, amanhã e depois o vice-campeão e o campeão, respectivamente.
Com 256.740 cliques, leva a medalha de bronze o artigo intitulado “‘Muito boa tarde’, diz o apresentador de TV. Pode, Arnaldo?”, motivado por uma consulta do leitor Cláudio Teixeira, publicado em 30 de outubro do ano passado.
No mais, renovo o convite aos leitores para que continuemos em contato por meio de meu novo site dedicado a questões polêmicas do português brasileiro, o Melhor dizendo, e de sua página no Facebook.
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“Caro consultor Sérgio Rodrigues, diariamente o apresentador Evaristo Costa (foto), do jornal da tarde da TV Globo, quando se dirige aos repórteres, usa a seguinte expressão: ‘Muito boa-tarde para você’. Pergunto:
• O que exatamente ele está desejando: quantidade de boa-tarde?
• Neste caso não seria ‘muitas boas-tardes para você’?
• Boa-tarde não seria feminina, portanto não deveria ser ‘muita boa-tarde’?
• Está correto ele desejar aquela quantidade de ‘boa tarde’ exclusivamente para ‘você’, estando falando diante de outras pessoas?”(Cláudio Teixeira)
Antes de esmiuçar as muitas dúvidas de Cláudio, convém deixar logo claro que não há nada errado com o cumprimento do referido apresentador de TV.
“Muito boa tarde para você” (sem hífen em “boa tarde”, como já veremos) é uma construção em que o advérbio “muito” intensifica o adjetivo “boa”, que por sua vez qualifica o substantivo “tarde”. Quem a emprega está desejando ao interlocutor “uma tarde muito boa”, só isso. Nada a ver com uma grande quantidade de tardes.
A intensificação adverbial do adjetivo é um processo comum, o mesmo que existe em “Temos muito pouco dinheiro”, por exemplo. Já tratei desse assunto aqui.
O equívoco de Cláudio começa na interpretação de “boa tarde” como palavra composta, “boa-tarde”, e não como um simples par de adjetivo e substantivo. Existe, sim, a palavra composta “boa-tarde” (e também “bom-dia” e “boa-noite”), mas ela é usada apenas quando se faz necessário substantivar a expressão.
Para trocar em miúdos: “boa-tarde” com hífen é um vocábulo que, precedido de artigo na maioria das vezes, reservamos para frases como esta: “Chegou contrariado e murmurou um boa-tarde seco”; “Criatura adorável, seus boas-tardes eram música para mim”. Sim, boa-tarde (como bom-dia e boa-noite) é substantivo masculino.
Quando cumprimentamos alguém, o que dizemos deve ser escrito sem hífen: “Boa tarde, fulano”.
Quanto à última pergunta, relativa ao “para você” – bem, também não há problema nisso. Mesmo que o apresentador se dirigisse aos telespectadores em geral, e não a um repórter específico, o tratamento pessoal e singular seria preferível ao amorfo e plural. Faz tempo que a comunicação de massa aprendeu não ter nada a ganhar deixando claro para o ouvinte que ele é só mais um na multidão.