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Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming

A indústria da saudade por trás de séries da Netflix como ‘Wandinha’

Elas reforçam uma fórmula de ouro: unir nostalgia e originalidade para cativar um público amplo, dos jovens até seus pais

Por Amanda Capuano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 ago 2025, 00h25 - Publicado em 8 ago 2025, 06h00

Quando Christina Ricci deu vida à primogênita da Família Addams no cinema, na década de 1990, Jenna Ortega ainda não chegara ao mundo. Nascida em 2002, a estrela de Wandinha descobriu a obra inspirada nos quadrinhos de Charles Addams e na sitcom homônima dos anos 1960 aos 10 anos de idade e cresceu comparada à personagem, com quem compartilha o jeitinho sarcástico. “Meu senso de humor é um pouco estranho às vezes, talvez obscuro demais”, declarou ela certa vez sobre as semelhanças com a protagonista da série que acaba de retornar à Netflix com a primeira metade de sua segunda temporada — os episódios finais chegam em 3 de setembro.

PIONEIRA - Stranger Things: produção do streaming cativou a audiência fincando suas bases na estética oitentista
PIONEIRA - Stranger Things: produção do streaming cativou a audiência fincando suas bases na estética oitentista (./Netflix)

Lançada em 2022, Wandinha se tornou um arrasa-quarteirões instantâneo: é a série em língua inglesa mais vista da Netflix, com 252,1 milhões de visualizações — e instaurou, fora das telas, uma febre de fantasias, festas temáticas e danças que emulam a estética e a personalidade da adolescente ranzinza. Tal fenômeno é fruto de um equilíbrio quase científico entre nostalgia e modernidade, fórmula capaz de atrair diversos públicos e que se mostrou valiosa para a Netflix nos últimos anos. Basta olhar as produções mais vistas da plataforma para atestar que a estratégia funciona: além de Wandinha, o top 10 de séries em inglês tem ainda duas temporadas de Stranger Things e outras duas de Bridgerton, ambos fenômenos do streaming que bebem desse mesmo equilíbrio — e que têm paralelos também com a febre inesgotável dos remakes.

SUCESSO ANACRÔNICO - Bridgerton: passado propositalmente repaginado
SUCESSO ANACRÔNICO - Bridgerton: passado propositalmente repaginado (Liam Daniel/Netflix)

Mestre nessa “ciência”, a Netflix usa e abusa da receita consolidada, mas cada um desses sucessos explora o apelo idílico à sua maneira. Primeiro grande acerto da plataforma na fantasia e ficção científica, Stranger Things finca suas bases na estética oitentista que domina a trama: da trilha sonora ao figurino, a série é ambientada num mundo em que os jovens de hoje não viveram, mas do qual os pais têm lembranças vívidas e saudades e que agora ambos aproveitam juntos diante da TV. Isso porque, em paralelo com a trama sobrenatural, a série dirigida pelos badalados irmãos Duffer também cativa a geração Z com questões típicas do amadurecimento: enquanto lidam com ataques de monstros malignos ao som de velhos hits de Kate Bush, Eleven (Millie Bobby Brown) e sua turma são, antes de tudo, adolescentes tentando sobreviver às dores do crescimento — e é corriqueiro ver fãs fascinados atestando como desejariam ter vivido isso.

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No caso de Bridgerton, a relação entre passado e presente é propositalmente mais anacrônica: ambientada na Inglaterra do século XIX, a série baseada na franquia de livros de Julia Quinn pinta uma realidade idealizada de bailes, roupas pomposas e casamentos arranjados que enche os olhos de quem vê — mas que, na realidade, seria moderninha demais para a aristocracia d’antanho. Essa falsificação histórica, no entanto, é calibrada para o público atual: na era das redes sociais, a nostalgia não se sustenta por si só — é preciso que dialogue com a realidade. Por isso, as liberdades femininas e o papel dos negros são ampliados na série, ao mesmo tempo que as festas são embaladas por sucessos atuais do pop “disfarçados” por uma roupagem instrumental clássica.

VINTAGE - WandaVision: Disney+ pôs heróis da Marvel dentro de sitcom família
VINTAGE - WandaVision: Disney+ pôs heróis da Marvel dentro de sitcom família (./Disney+)

Todo esse fenômeno, claro, não se restringe à Netflix: a nostalgia é hoje um grande propulsor do entretenimento e alimenta diversas áreas da indústria, do mercado musical até a inesgotável onda de remakes no cinema e no streaming. Impulsionados pela ligação emocional do público com tramas como How I Met Your Mother e Sex and the City, sucessos inquestionáveis de décadas passadas, a Disney e a HBO apostaram em títulos como How I Met Your Father e And Just Like That… para trazer de volta rostos conhecidos e atualizar histórias clássicas. Os “remakes puros”, no entanto, têm vida dura: apesar da tração inicial da nostalgia, tramas que ficam muito presas aos originais acabam datadas e escorregam na moral e no comportamento do mundo de hoje, despertando comparações inevitáveis com o passado — e, quase sempre, decepção.

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REMAKES - And Just Like That... (à esq.) e How I Met Your Father: decepções
REMAKES - And Just Like That… (à esq.) e How I Met Your Father: decepções (Warner Bros. Discovery;/HULU)

No caso de Wandinha, o maior acerto da Netflix é justamente o de criar uma roupagem 100% nova para a personagem clássica, em vez de apenas reciclar a A Família Addams como a conhecemos. Outro exemplo bem-sucedido disso é WandaVision, do Disney+, que uniu o atualíssimo Universo Marvel ao passado de maneira inteligente: a série transforma a vida de Wanda (Elizabeth Olsen) e Vision (Paul Bettany) numa sitcom família da década de 1950, com toda a estética e pompa atrelada a isso. A lição que fica é uma só: mais que apostar na mera saudade, é preciso uma boa dose de originalidade para fazer a nostalgia prosperar nas telas.

Publicado em VEJA de 8 de agosto de 2025, edição nº 2956

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