A verdade inegável – e dura – sobre o drama de Ana Hickmann
Apresentadora denunciou agressão do marido, Alexandre Correa – no Brasil, 50 mil mulheres sofrem um tipo de violência diariamente
Um dos principais assuntos desta semana, o drama de Ana Hickmann – que denunciou o marido, Alexandre Correa, por violência doméstica em 11 de novembro – representa, infelizmente, a realidade de milhares de mulheres brasileiras. Sendo modelo, influenciadora digital com mais de 17 milhões de seguidores só no Instagram e uma das apresentadoras mais famosas do Brasil, Ana tornou pública uma acusação de agressão ocorrida dentro da casa da família, em Itu, interior de São Paulo, na frente do filho de 10 anos do casal, e vem manifestando aos poucos que precisa ser forte pelo rebento e por ela mesma. A atitude da gaúcha de 42 anos é, antes de tudo, admirável pela coragem em denunciar o caso, além de mostrar como a violência doméstica obviamente não escolhe uma classe social – apesar de atingir em maior escala mulheres pobres e negras.
Símbolo da riqueza, seja ostentando sua sala gigantesca ou mostrando o dia a dia da família em seu terreno de 6.500 metros quadrados, Ana Hickmann poderia muito bem esconder a agressão para manter a aparência de lar feliz e perfeito, por medo do que os outros pensariam e do julgamento que toda mulher agredida acaba sofrendo por parte da sociedade – junto com a dependência emocional e/ou financeira, esses pontos são os motivos principais para vítimas de violência doméstica permanecerem casadas com seus agressores.
Uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Instituto Datafolha divulgada em março deste ano foi realizada em 126 municípios de pequeno, médio e grande porte, no período de 9 a 13 de janeiro de 2023, com amostra total nacional de 2.017 entrevistas. Segundo o estudo, 33,4% das mulheres brasileiras com 16 anos ou mais experimentou violência física ou sexual provocada por parceiro íntimo ao longo da vida. 24,5% afirmaram ter sofrido agressões físicas como tapa, batida e chute, e 21,1% foram forçadas a manter relações sexuais contra sua vontade. O levantamento também indica que “43% da população feminina afirma ter vivenciado, ao longo da vida, ao menos uma das formas de violência apresentadas, em todas as situações tendo como autor um parceiro íntimo” e, em média, 27,6 milhões de mulheres sofreram alguma forma de violência de um parceiro.
No recorte de classe social, em relação à renda salarial familiar, os dados revelam que, à medida que aumenta a renda, diminui a prevalência de violência, embora mesmo entre as mulheres com mais de 10 salários mínimos de renda os níveis sejam elevados: 31,2% das mulheres cuja renda familiar mensal é de até 2 salários mínimos sofreram violência no último ano. Entre as que ganham entre 2 e 5 salários, esse número é de 28,4%. Cai para 27,4% entre as que têm rendimento entre 5 e 10 salários, e 22,6% é a porcentagem entre as que recebem mais de 10 salários. Agressões físicas (13,8%) e espancamentos (7,7%) são muito mais frequentes entre mulheres com renda de até 2 salários-mínimos.
Parte dessa lamentável estatística, Ana Hickmann foi corajosa em denunciar e pode servir de inspiração para outras vítimas. Na segunda-feira 13, após o fim de semana em que a queixa-crime foi amplificada na imprensa, a apresentadora – vestindo uma camisa social de mangas compridas – trabalhou normalmente no Hoje em Dia, programa da Record, e disse não estar pronta para falar ainda. Na quinta-feira, 16, porém, Ana surgiu com um vestido branco sem mangas e o que parecia ser um hematoma em seu braço esquerdo chamou a atenção do público. Sutilmente, a gaúcha fez o contrário do que as vítimas fazem por vergonha: esconder seus machucados.
No caso de Ana, acumulam-se problemas financeiros – empresas que a apresentadora tem junto com Alexandre Correa devem 1,2 milhão de reais ao Banco do Brasil e, de acordo com o Tribunal de Justiça de São Paulo, ações iniciais movidas contra o casal somam mais de 4 milhões de reais. Além disso, há uma Dívida Ativa da União aberta, com 2,7 milhões de reais. O futuro do casamento de Ana ainda é incerto. Entretanto, a postura da apresentadora agora, em meio ao vendaval, é por si só um exemplo de força.
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