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Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming
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‘And Just Like That’ e a celebração da vida sexual da mulher acima dos 50

Após volta pudica em 2021, o seriado retoma o foco nas protagonistas e abraça os constrangimentos carnais e a extravagância cômica de 'Sex and The City'

Por Thiago Gelli Atualizado em 13 Maio 2024, 22h35 - Publicado em 24 ago 2023, 12h24
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  • Sarah Jessica Parker está à beira dos 60 anos, 25 a mais do que tinha quando iniciou as filmagens de Sex and The City. O set que ocupa, porém, permanece praticamente o mesmo — com exceção do nome e um vazio com o tamanho de Kim Cattrall, que deu vida à hedonista Samantha até Sex and The City 2, mas se cansou da franquia por desavenças pessoais e diferenças criativas. Em And Just Like That…, Parker mantém viva a avoada, romântica, saltitante e fumante escritora Carrie Bradshaw, que se dedica a capturar em palavras as agruras amorosas e carnais suas e de suas parceiras de vida — agora apenas Miranda (Cynthia Nixon) e Charlotte (Kristin Davis) — enquanto navegam a meia-idade.

    Estabelecer o reconhecimento da personagem como a mesma jovem energética do seriado original, no entanto, foi um desafio para a série, que chegou ao fim da segunda temporada nesta quinta-feira, 24, e acaba de ser renovada para uma terceira leva de episódios. Quando estreou, em dezembro de 2021, ela prometia corrigir a falta de diversidade racial e sexual do quarteto protagonista, e para isso teceu novos personagens de diferentes etnias e identidade de gênero. No caminho rumo à consciência política, no entanto, deixou cair do bolso a dramaturgia e o carinho pelas protagonistas, as transformando em figuras senis e descoladas da realidade, carentes de energia urbana e despidas de sexo. Beirando um caretismo gagá, And Just Like That… fisgou seus espectadores como um prazer contraditório, advindo do absurdo retratado e das terríveis decisões criativas, um misto do reality Mulheres Ricas com um retrato falado efusivo da geração Z.

    Vinda a segunda temporada — no ano em que a original completa um quarto de século — a expectativa era de continuação do tom fascinantemente equivocado, salvo uma aguardada aparição de Samantha, anunciada para o último episódio, mas algo sísmico foi acontecendo semana a semana: em anúncios de produtos vaginais, em apetrechos estimulantes, em encontros casuais e no retorno de personagens queridos, o sexo voltou, finalmente, para a cidade. 

    Até então, o terreno havia sido árido e assustador. O encontro sexual mais marcante da primeira temporada ocorre entre Miranda e Che Diaz, personagem não binário pelo qual a ex-advogada se apaixona. O entrelaço ocorre quase como uma cena de suspense. A seriedade exacerbada deu à série toques de especial educativo, esquecendo do glamour e do desprendimento, que eram seus atrativos no passado. Isso até a atual fase, que retornou repaginada, escanteando personagens secundárias e focando em suas protagonistas com a leveza embriagada característica dos cosmopolitans, que são a assinatura do seriado original.

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    Principalmente, And Just Like That… enfim supera as armadilhas estruturais estabelecidas ao longo dos dois filmes que a antecederam. Neles, entre provas de vestido com Vera Wang e viagens pagas para Dubai, o quarteto é alavancado para a opulência inimaginável, e amarrado a conflitos matrimoniais conservadores e mesquinhos muito distantes das questões financeiras, experimentos carnais e angústias românticas de outrora.

    Na série, a solução é, primeiro, matar Big (Chris Noth), marido de Carrie; depois, divorciar Miranda e, então, reintroduzir Charlotte ao mercado de trabalho como galerista — sacada que anda proporcionando os picos cômicos dos episódios. Entre esses momentos, a imobiliária Seema Patel (Sarita Choudhury), nova amiga de Carrie, ganha espaço para brilhar como a solteirona sexualmente ativa do grupo, e o padeiro Anthony (Mario Cantone) passa a representar a meia-idade gay com um encantador relacionamento com um homem mais novo. Por ora, resta apenas uma ponta solta a se resolver: a personagem Lisa Todd Wexley (Nicole Ari Parker), cujos conflitos como mãe e esposa trabalhadora permanecem redundantes e fora do tom. Os momentos e arcos frustrantes — além da direção enlatada do criador Michael Patrick King —, mesmo assim, não eclipsam o charme enfim conquistado. 

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    Ao fim da estreia da segunda temporada, Carrie reutiliza seu famoso vestido de casamento, visto no primeiro filme derivado da série
    Ao fim da estreia da segunda temporada, Carrie reutiliza seu famoso vestido de casamento, visto no primeiro filme derivado da série (HBO Max/Divulgação)

    Se a primeira temporada de And Just Like That… encarava a idade como uma carga acachapante, seus novos episódios pensam na ficção com efervescência, extravagância e um grau bem-vindo de vulgaridade, que se entrega à estupidez de jeito mais próximo aos exageros fantasiosos e datados da série original.

    No finale da temporada, para selar a volta às raízes, Samantha reaparece brevemente em um carro, trajada de vestido vermelho, jaqueta prata e bolsa verde-limão escolhidos pela figurinista Patricia Field, que trabalhou durante as seis temporadas originais, mas não voltou para a continuação. Ao invés de destacar a falta que a personagem faz, porém, o momento serve para validar que, finalmente, as namoradeiras mais famosas de Nova York estão prontas tanto para seguir em frente quanto para olhar para trás.

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