Onipresente na televisão nos anos 1990 e 2000, a trupe do Casseta & Planeta marcou época com um humor politicamente incorreto veiculado em horário nobre na TV Globo. Quinze anos após a morte de Bussunda, o humorista Claudio Manoel revisitou o passado do grupo para homenagear o colega na série Meu Amigo Bussunda, em cartaz no Globoplay. Dividida em quatro episódios de aproximadamente 50 minutos cada, a série não só resgata a história do grupo: empreende um notável mea culpa de muitas piadas que eles faziam. Nem os Cassetas escaparam aos efeitos do tempo.
Que a trupe era divertidíssima e não soava particularmente ofensiva em seu tempo, é um fato. Mas, pouco mais de uma década depois de sua saída da tela da Globo, é inegável que certas tiradas, vistas pelos olhos de hoje, causem mal-estar. Entre os alvos favoritos das piadas do grupo estavam gays, mulheres, gordos, negros, deficientes físicos, além de nordestinos, nortistas e gaúchos. Na série documental, eles se justificam dizendo que surgiram no final da ditadura militar, quando a censura tinha acabado de ser extinta e havia uma liberdade muito grande para que piadas desse tipo prosperassem. O fato é que, se fosse hoje, suas piadas seriam sumariamente canceladas nas redes sociais. A seguir, relembramos algumas delas:
Misoginia
Antes do grupo ir para a televisão, o humorista Bussunda compôs a música Mãe é Mãe, onde ele imitava o tom grave de Tim Maia. Na letra, o grupo todo cantava um refrão impensável (ainda bem) nos idos atuais, em que propagavam em alto e bom som um xingamento machista às mulheres. Na época, sem problemas: o sucesso foi tanto que eles fizeram apresentações musicais que lotaram a casa de espetáculo Canecão, no Rio de Janeiro, e foram convidados para cantar até no Faustão.
https://www.youtube.com/watch?v=VtT00ucmEjQ
Racismo
Um dos motes favoritos do Casseta & Planeta era parodiar as novelas da Globo. Em uma dessas piadas, interpretada por Helio de La Peña, eles tentam fazer graça com um apelido racista dado às pessoas negras. Nela, o personagem do humorista negro, o Chocolate, cumprimenta todas as pessoas na rua – a graça era fazer piada com o título do folhetim das 6 Chocolate Com Pimenta, que virou Chocolate Cumprimenta.
Homofobia
A lista de piadas homofóbicas é grande. A empresa fictícia Tabajara, por exemplo, era mestre em criar apetrechos para descobrir se alguém era gay ou não, como se ser gay fosse um problema. Há ainda piadas em que um pai está super preocupado porque o filho pode ser gay e, para evitar isso, esconde os vegetais em formato fálico da casa.
Bairrismo
Outro alvo da trupe eram, de forma geral, os brasileiros de fora do Sudeste. Os gaúchos sempre eram retratados como machões – porém, homossexuais enrustidos. Do Acre, eles sempre faziam a piada de que lá as pessoas tiravam leite do pau, em referência ao trabalho dos seringueiros. No documentário, inclusive, há uma declaração do Bussunda reclamando da insistência do grupo em tratar os nortistas dessa forma.