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Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming

‘Betty, A Feia virou uma bola de neve que cobriu vários países’, diz atriz

Elenco original retorna para novas tramas no folhetim colombiano, vinte anos depois, adaptadas à era do streaming e aos temas atuais

Por Thiago Gelli Atualizado em 19 jul 2024, 17h53 - Publicado em 19 jul 2024, 15h01

Em outubro de 1999, foi ao ar na rede colombiana de televisão RCN pela primeira vez a novela Betty, A Feia, que exibiria mais 334 capítulos até seu encerramento em 2001. A trama, porém, ainda estaria longe de acabar. Transmitida em mais de 100 países, a jornada de uma jovem desengonçada contratada como secretária em uma empresa de moda cativou milhares de espectadores e chegou até a ganhar remakes em outros países, entre eles um americano estrelado pela indicada ao Oscar America Ferrera. O elenco original, porém, segue determinado a consagrar o folhetim da Colômbia como versão definitiva da premissa, argumento engrossado pela nova série Betty, A Feia: A História Continua, cujos dois primeiros episódios acabam de chegar ao catálogo do Prime Video.

Mais de 20 anos após o encerramento da telenovela, Betty (Ana María Orozco) superou o adjetivo depreciativo que acompanha seu nome no título, mas não abandonou a personalidade vívida. Problemas conjugais com o ex-chefe Armando (Jorge Enrique Abello) e a rebeldia da filha, entretanto, a desafiam. Para além da vida em família, a protagonista tem que decidir se assumirá as rédeas da empresa EcoModa e enfrentar os novos desafios do mundo moderno, regido pela tecnologia e cheio de pressões estéticas e sexistas. Em entrevista a VEJA, Orozco e Abello detalham como foi retornar aos antigos figurinos:

Vocês dois gravaram juntos mais de 300 capítulos para a telenovela de 20 anos atrás. Como foi a adaptação para o formato mais enxuto do streaming? 

Jorge Enrique Abello: Tivemos que estudar bastante para chegar a um acordo entre toda a equipe de escritores e produtores rumo à mudança de formato. Aos poucos, concordamos com o caminho. O desafio assustador foi a mediação entre o que as pessoas viram no passado e o novo, feito corda bamba. Nos últimos 20 anos, os padrões de transmissão e reprodução dessas séries mudaram tanto quanto os princípios da sociedade, então a série se pergunta como Betty pode existir em meio à contemporaneidade. Ao mesmo tempo, conservamos a essência da obra.

Ana María Orozco: Além da própria Betty, este novo capítulo tateia outros conflitos — o que não foi uma adaptação tão difícil, porque estamos todos conscientes dos tempos e conversamos muito nos bastidores. É uma transição natural e orgânica.

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A produção original foi um sucesso e originou múltiplos remakes em outras línguas. O streaming, contudo, permite que a série seja vista em espanhol em qualquer lugar do mundo. Como se sentem com esse novo alcance?

Jorge: Esta permanência é muito bonita, porque significa que nosso trabalho ainda tem força mesmo depois de tantas versões. Somos os originais.

Ana: É claro que tudo mudou: quando fizemos isso há 20 anos, foi de país em país e aos poucos Betty, a Feia se tornou uma bola de neve que cobriu vários lugares. Agora, o impacto é imediato, então carregamos expectativas. É um pouco vertiginoso, mas me emociona muito. Acredito que o resultado será bem recebido pela resposta que recebemos nas redes.

Esta é a primeira vez que Betty existe sem a presença do criador Fernando Gaitán, que morreu em 2019. Como foi voltar a este universo sem ele?

Jorge: A série continua sendo sua filha. Isso tudo só é possível graças a Fernando e aos personagens que carregam sua alma. As tramas de hoje partem das pontas abertas que ele deixou no passado. Fernando não está aqui, mas está.

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Ana: E trabalhamos sob o legado que ele deixou, mas não pretendemos repetir o que fizemos naquela época. A novela clássica está lá e não será tocada mais. O que estamos produzindo é algo novo, feito com muito respeito e cuidado pelo histórico que nos segue.

Há quem diga que novelas são coisa do passado e que séries são um formato superior. O quão importante foi manter o respeito e o tom à linguagem original nos bastidores de A História Continua?

Jorge: As novelas já foram alvo de um caráter pejorativo para aqueles menos atinados a elas do que os públicos da América Latina. Para nós, latinos, novelas são um álbum de fotos cultural, são demonstrações de nossas idiossincrasias. Sinto que pela quantidade de elementos administrados, elas são muito mais maleáveis que qualquer outro formato. A série naturalmente vem do folhetim. Intuímos essa guinada.

Ana: Além disso, é bom levar às séries esse tempero que é nosso e latino-americano. O drama e a comédia próprios da telenovela permanecem conosco.

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Por que acham que o interesse por essa história permanece?  

Jorge: Porque o mundo não mudou tanto. O discurso sim, mas o mundo não. Também porque hoje temos a possibilidade de ter um maior investimento e uma maior acesso à tecnologia para entregar um produto de super qualidade. Os conflitos de 20 anos atrás ainda estão presentes na humanidade, assim como os de Betty.

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