‘Dona Beja’: a história ousada por trás da novela adaptada pela HBO
Trama é baseada em livros sobre Ana Jacinta de São José, uma mulher que fundou um bordel e escandalizou a sociedade brasileira no século XIX
Novela em produção pela HBO Max, Dona Beja será uma adaptação de dois livros: Dona Beja: A Feiticeira do Araxá, de Thomas Othon Leonardos (1906-1990), e A Vida Em Flor de Dona Beja, de Agripa Vasconcelos (1896-1969). A trama é baseada na vida ousada de Ana Jacinta de São José, mulher que existiu na vida real e escandalizou a sociedade brasileira ao fundar um bordel e se prostituir aos olhos de todos. A história já fora adaptada uma vez no folhetim Dona Beija, da extinta TV Manchete, e agora ganhará uma versão feita para o streaming protagonizada por Grazi Massafera na pele da protagonista.
Segundo consta nos livros, Ana Jacinta chegou com sua família na cidade de Araxá, Minas Gerais, quando tinha 5 anos. Conforme foi crescendo, foi sendo reconhecida como a moça mais bonita da região por causa de sua pele clara, cabelos loiros e olhos claros. Seu avô lhe deu o apelido de Beja por dizer que sua beleza era rara como a da flor beijo. Ela chegou a se encantar por Manoel Fernando Sampaio, mas, aos 15 anos, foi raptada por Joaquim Inácio Silveira da Motta, um homem de confiança do rei, e levada para viver na Vila do Paracatu, onde foi sujeitada a ser amante de Motta. A jovem ficou nessa situação por dois anos, até que o imperador Dom João VI exigiu o regresso de Joaquim para o Rio de Janeiro sem Ana, que precisou voltar para Araxá.
Na cidade mineira, Ana Jacinta passou a ser julgada pelas mulheres da sociedade, que a consideravam impura por ter sido amante, mesmo que forçada, levando a moça a ser marginalizada e desprezada naquele ambiente conservador. Com o dinheiro que ganhou de Joaquim, ela construiu uma casa grande no campo e decidiu fundar um bordel. Para se vingar das mulheres que a desprezavam, Ana, adotando o apelido de Dona Beja, passou a se prostituir no local batizado de Chácara do Jatobá, fazendo questão de se deitar com todos os homens casados da cidade — um diferente a cada noite e à sua escolha. Manoel, primeiro e único amor de Ana, apareceu no bordel um dia, e os dois iniciaram um romance que resultou em uma gravidez. Acostumada a sua liberdade, a prostituta não deixou de ter seus amantes e engravidou novamente, de outro homem. Assim, Dona Beja acabou deixando Araxá com as duas filhas e se tornou empresária de diamantes em Bagagem, outra cidade de Minas Gerais. Lá, ela viveu luxuosamente e feliz até morrer de nefrite.
Dona Beija, da TV Manchete
Exibida na Manchete entre 31 de março e 11 de julho de 1986, com 89 capítulos, Dona Beija foi a primeira telenovela de grande investimento da emissora e acabou se tornando um grande sucesso. Estrelado por Maitê Proença, o folhetim tinha grande apelo sensual com as cenas da protagonista se banhando nua na cachoeira, passeando de cavalo e se relacionando com seus clientes. A abordagem era ousada para a época de um Brasil recém-saído da ditadura militar e entrando na Nova República. Um dos maiores trunfos da novela foi ter conciliado a época em que se passava a trama, a primeira metade do século XIX, com a modernidade de forma eficaz.
Dona Beja, da HBO Max
Para fazer a novela de época, a HBO Max construiu uma cidade cenográfica no Rio de Janeiro. Com intenção de se adequar à modernidade, a adaptação escrita por Daniel Berlinsky e António Barreira ganhará mais diversidade racial no elenco, além de um tom mais feminista. O triângulo amoroso com Dona Beja (Grazi Massafera) será formado pelos atores André Luiz Miranda e David Jr. O folhetim terá só 40 capítulos. A HBO Max pretende fazer uma versão bem diferente da exibida pela Manchete nos anos 1980.
Integram o elenco também: Bianca Bin, Othon Bastos, Elizabeth Savalla, Werner Schunneman, Roberto Bomtempo, Deborah Evelyn, Bukassa Kabengele, Indira Nascimento, Tuca Andrada, Isabela Garcia, Otávio Müller, Erika Januza, Thalma de Freitas, entre outros.