Excelente, série ‘O Urso’ põe em xeque o glamour do universo culinário
Com ritmo frenético e filmagem imersiva, a atração expõe a vida como ela é nos bastidores de um restaurante
O relógio na parede é uma espécie de entidade cruel na cozinha do restaurante The Beef, em Chicago. Dividindo um espaço ínfimo e claustrofóbico, os funcionários se acotovelam enquanto observam o avançar dos ponteiros que dita o ritmo intenso de mais um dia de trabalho. A comunicação entre eles é feita aos gritos, competindo com o som do tilintar de panelas e talheres, batedeiras e o chiar do óleo quente preparando os alimentos. “São 76 carnes, 34 frangos, doze batatas fritas e doze purês, agora”, dispara o chef Carmy (Jeremy Allen White), que comanda o local entre a rigidez e a gentileza — e uma dose de desespero.
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Retrato imersivo do dia a dia de uma cozinha profissional, a minissérie O Urso, do Star+, chegou de mansinho e roubou a cena: ela já cavou trincheira entre as melhores produções de 2022. Em oito episódios, ela rompe com o glamour idealizado da gastronomia, dando espaço a uma realidade mais autêntica do que a apresentada pelos populares reality shows culinários. Aqui, a cozinha é protagonista, funcionando como um organismo vivo que acolhe e oprime, na mesma intensidade.
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A imersão realista se deve à identificação e dedicação da equipe com o tema. A série foi criada pelo produtor americano Christopher Storer, que conduziu diversos documentários sobre o universo culinário antes de se dedicar à ficção. Seu melhor amigo de infância, o empresário Christopher Zucchero, vem de uma família tradicional no ramo dos sanduíches de carne italiana de Chicago, o carro-chefe do restaurante da série — o lanche, aliás, explodiu em venda nos dois últimos meses com a exibição do programa nos Estados Unidos pelo canal FX.
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É na cozinha do The Beef da vida real, fundado pelo tio e pelo pai de Zucchero, em 1978, que as cenas são gravadas, conferindo a verossimilhança indispensável à trama. No elenco, White, antes de assumir o avental do intenso chef Carmy, diminutivo de Carmem Berzatto, teve aulas no Instituto de Educação Culinária de Los Angeles, e chegou a trabalhar em um restaurante para se habituar ao ambiente.
A culinária é parte intrínseca da relação familiar da trama principal. Carmy era um chef promissor e comandava um restaurante estrelado em Nova York. Isso até seu irmão se matar e deixar no testamento o The Beef aos seus cuidados. Fora da zona de conforto, o chef precisa aprender a comandar uma equipe que, assim como ele, enfrenta o luto pela perda repentina de seu “comandante”. À medida que a série avança, fica claro que a reconstrução do estabelecimento é também um modo de lidar com as feridas do passado. Resta ao público puxar a cadeira e degustar cada garfada desse prato cinco-estrelas.
Publicado em VEJA de 30 de novembro de 2022, edição nº 2817
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