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Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming

‘Fomos ousados’, garantem criadores da 2ª temporada de ‘Os Anéis do Poder’

J.D. Payne e Patrick McKay conversaram com a reportagem de VEJA sobre os desafios de adaptar uma história incompleta de J.R.R. Tolkien

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 6 set 2024, 08h00

Os produtores executivos J.D. Payne e Patrick McKay assumiram uma das maiores responsabilidades de suas carreiras quando aceitaram adaptar para as telas a série O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder, cuja segunda temporada acabou de estrear no Prime Video. Com um orçamento bilionário em mãos, eles decidiram contar uma parte da história criada por J.R.R. Tolkien sobre a Segunda Era da Terra Média que não foi contada em livros, revelada apenas em pequenas notas de rodapé, apêndices ou por meio de fatos mencionados por outros personagens. Como ponto positivo, os produtores puderam usar a criatividade para preencher lacunas deixadas por Tolkien, por outro lado, ele se aventuraram num terreno pantanoso, abrindo brechas para receberem críticas dos fanáticos leitores do escritor britânico.

Em conversa com VEJA, a dupla falou sobre essa bênção (ou maldição, dependendo do ponto de vista) de poder contar uma história amada por milhares de pessoas, como lidaram com as críticas a respeito da primeira temporada e os planos para essa segunda parte. A nova temporada promete ser mais agitada e, finalmente, fazer a história avançar. Se na primeira fase o roteiro privilegiou a apresentação dos personagens, agora, a ideia é desenvolver a trama. Com um orçamento bilionário, a série se tornou uma das apostas mais ousadas e arriscadas da Prime Video por contar uma parte da história do Senhor dos Anéis mencionada apenas em notas de rodapé por seu criador J.R.R. Tolkien.

Ambientada na Segunda Era, os acontecimentos precedem em milhares de anos aos ocorridos na trilogia O Senhor dos Anéis, de Peter Jackson, e conta sobre a ascensão de Sauron e sua aliança com os Orcs, culminando na guerra travada contra a aliança dos homens, anões e elfos. Confira a seguir os melhores trechos:

Quais desafios vocês precisaram superar para criar uma história original, mas que permanecesse fiel à essência de Tolkien?

J.D. Payne: A história que estamos contando, sobre a Segunda Era, é uma espécie de ponto ideal para Tolkien. A história da Terceira Era foi contada detalhadamente em A Sociedade do Anel, As Duas Torres e O Retorno do Rei. A Primeira Era é relatada em Silmarillion. A Segunda Era, portanto, nunca teve sua história completa contada. Você obtém trechos disso em apêndices, músicas, poemas e pequenas coisas que os personagens dizem para outros, ou em pequenos capítulos. Assumimos a responsabilidade de tentar reunir todos esses pequenos elementos que Tolkien espalhou por todo o seu Legendarium e entrelaçá-los em um grande épico. Naturalmente, você terá que preencher algumas lacunas quando fizer isso. Sempre tentamos fazer isso de uma forma que seja tão reverente a Tolkien quanto possível, mas também que seja ousada. Queremos que nossas escolhas pareçam certas para os personagens e certas para a história, para criar o drama humano mais convincente possível.

Patrick McKay: Estamos tentando trazer para as telas um dos mundos imaginativos mais vastos já criados. Queremos fazer isso da maneira mais grandiosa e alucinante possível, com cada quadro, cada cena e cada episódio. O sarrafo é muito alto. Mas também é uma oportunidade, certo? Estamos tocando em um dos grandes mundos já criados e é um enorme privilégio poder fazê-lo.

As duas temporadas têm orçamento somados de 1 bilhão de dólares. Esse enorme volume de dinheiro foi uma bênção ou uma maldição?

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Patrick McKay: Esse não é o número correto, apesar do que foi relatado na imprensa. Somos extremamente gratos e sortudos por ter a Amazon que compartilha nossa paixão por este mundo. Como nós, ela quer trazê-lo para a tela da maneira mais luxuosa possível. Para isso, é preciso muitos recursos. Na segunda temporada em particular, nós sentimos que conseguimos colocar tudo na tela.

As críticas sobre a primeira temporada elogiavam o esmero com a produção, mas criticavam a falta de ação. Vocês concordam com isso? Será diferente agora?

Patrick McKay: Amamos as cenas de ação da primeira temporada e achamos que elas são fantásticas. Temos um plano de longo prazo para a série. É um mega épico de 50 horas, como chamamos. A primeira temporada sempre foi sobre trazer o público de volta à Terra Média, apresentando todos esses mundos e esses personagens. E então, apresentaríamos o maior vilão da história da literatura de fantasia, Sauron, esperançosamente da maneira mais inesperada possível. Na segunda temporada a ideia é contar sobre um mundo onde a escuridão e o mal retornaram e um Sauron que tem um plano que está afetando cada personagem da série.

J.D. Payne: A primeira temporada é realmente sobre Galadriel, a segunda temporada é sobre Sauron. Na primeira temporada, as peças estavam sendo colocadas no tabuleiro. Agora, o jogo está em andamento.

Há uma diversidade muito grande no elenco. O quão importante é apresentar essa diversidade em uma série de TV, principalmente de fantasia?

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Patrick McKay: Desde o primeiro minuto, sempre planejamos ter um vasto elenco internacional. Isso significa que, por natureza, você terá muitos tipos de personagens. Tivemos a sorte de trabalhar com um dos melhores diretores de elenco do mundo, a Theo Park, que conquistou todos os prêmios na Apple + com Ted Lasso. Passamos um ano fazendo uma busca internacional pelos melhores e mais brilhantes talentos para dar vida à Terra Média. Para sorte nossa e para o público, o que descobrimos é que a Terra Média é grande o suficiente para todos os tipos de pessoas.

J.D. Payne: Testamos pessoas de várias origens. No final das contas, nosso objetivo era singular porque queríamos encontrar atores que sentiam que aquele papel era para eles. Sabe? Estamos muito satisfeitos com o elenco que temos e achamos que eles arrasaram na primeira temporada.

Em O Senhor dos Anéis, Sauron é a representação do malvado absoluto. Mas, nesta temporada, ele é um personagem sutil. Ele está emergindo, criando intrigas, está se envolvendo em escaramuças. Como foi criar esse Sauron para a série? 

J.D. Payne: No Legendarium há uma espécie de buraco muito tentador na história de Sauron. Sabemos um pouco do que ele fez na Primeira Era. Depois ele ficou ausente por algumas centenas de anos no Legendarium. Então pensamos que seria uma oportunidade deliciosa para uma história onde poderíamos responder: o que Sauron estava fazendo naquela época? Tolkien sugeriu algumas coisas e nós também sugerimos outras. Ele tem uma história de queda e ascensão. No momento em que ele estava prestes a se tornar o sucessor de Morgoth, ele foi traído e esfaqueado nas costas por seu braço direito, Adar, preparando o terreno para a inimizade entre esses dois vilões. O Legendarium fala que ele poderia ter se arrependido sendo chamado pelos Valar para mudar seus hábitos. Talvez, por um momento, ele até considerou isso, então finalmente seguiu outro caminho e tornou-se, talvez, ainda pior do que seu antecessor em termos do que ele fez à Terra Média.

Patrick McKay: Sobre a sutileza dele, acho que às vezes o mal chega até você sob o disfarce da amizade. Uma grande parte da história desta temporada são as maneiras sutis e tortuosas pelas quais Sauron consegue seduzir e enganar para completar seus próprios objetivos. Portanto, não confunda o fato de ele ter vindo em boa forma com o significado de que ele é algo menos do que um malvado puro e perigoso.

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Há ainda Tom Bombadil, um personagem ignorado nos filmes, amado pelos fãs e que ganhará destaque nessa temporada. Por que decidiu incluí-lo na história?

J.D. Payne: Nos perguntamos quem existia naquela época? Há alguns elfos imortais. Outra pessoa é Tom Bombadil. Ele é, literalmente, o ser mais velho de toda a Terra Média. Ele estava por perto quando a chuva caiu sobre a primeira bolota. O quão delicioso seria se pudéssemos trazê-lo para a nossa história? Parte da questão passou a ser: como? Acho que é uma das razões pelas quais ele não estava na trilogia. É difícil de apresentá-lo. De certa forma, ele é um personagem anti-dramático porque você procura Tom Bombadil para descansar e se recuperar. Talvez ele tenha algum conhecimento sobre a história da Terra Média e lhe conte alguma anedota, mas isso não avança o enredo. De certa forma, como Elrond diz mais tarde, poderíamos dar o anel para Tom Bombadil. Ele é poderoso, talvez pudesse lidar com isso. E então eles dizem que não, se ele lhe desse aquele anel, ele provavelmente o perderia e esqueceria que ele estava com ele. É assim que ele é, um deslocado das matérias urgentes.

Patrick McKay: Outra coisa sobre Tom Bombadil é que ele traz muita alegria e admiração. E em uma temporada como esta, que é muito mais sombria, é bom ter raios de luz.

Há novas produções sobre O Senhor dos Anéis e até um filme sobre Gollum. Vocês estão em contato com os responsáveis dessas produções para interligar as histórias?

Patrick McKay: Estamos focados em nossa própria série e na jornada que estamos levando todos esses personagens. Estamos abordando qualquer outra história da Terra Média apenas como fãs, mas achamos que a Terra Média é grande o suficiente para todos os tipos de histórias.

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