Glória Maria colecionou pioneirismos ao longo de sua carreira. Na Globo desde 1971, a jornalista foi a primeira repórter negra a entrar ao vivo e em cores no Jornal Nacional, na década de 1980. Além disso, inaugurou a era da alta definição da TV brasileira em 2007, ao lado do repórter cinematográfico Lúcio Rodrigues, com uma reportagem no Fantástico sobre a festa do pequi, fruta de cor amarela adorada pelos índios Kamaiurás, no Alto Xingu. “Eu sou uma pessoa movida pela curiosidade e pelo susto. Se eu parar pra pensar racionalmente, não faço nada. Tenho que perder a racionalidade pra ir, deixar a curiosidade e o medo me levarem, que aí eu faço qualquer coisa”, disse a apresentadora em entrevista ao Memória Globo. Também foi a primeira repórter do Bom Dia Rio, telejornal carioca, há 40 anos, sobre a febre das corridas de rua.
Além de tudo, Glória também foi a primeira repórter negra da TV brasileira, abrindo portas para novas gerações, a primeira apresentadora negra do Fantástico. Tanto pioneirismo incomodou racistas. Sua presença na revista eletrônica dominical provocou a ira de telespectadores, que enviavam cartas à Globo com conteúdo racista. Sendo assim, a jornalista foi a primeira brasileira a fazer uso da Lei Afonso Arinos, que proibiu a discriminação racial no Brasil, em 1951. A lei não considerava o racismo crime, mas contravenção.
Em uma publicação feita no Instagram, em 2019, Glória Maria recordou o episódio. “Racismo é uma coisa que eu conheço, que eu vivi, desde sempre. E a gente vai aprendendo a se defender da maneira que pode. Eu tenho orgulho de ter sido a primeira pessoa no Brasil a usar a Lei Afonso Arinos, que punia o racismo, não como crime, mas como contravenção. Eu fui barrada em um hotel por um gerente que disse que negro não podia entrar, chamei a polícia, e levei esse gerente do hotel aos tribunais. Ele foi expulso do Brasil, mas ele se livrou da acusação pagando uma multa ridícula. Porque o racismo, para muita gente, não vale nada, né? Só para quem sofre”, escreveu a apresentadora.