Jeniffer Nascimento: a saga da heroína de voz potente de Êta Mundo Melhor!
Forjada no teatro musical, ela prova seus múltiplos talentos como a cantora Dita — e ainda atua nos bastidores contra o racismo

Aos 5 anos, Jeniffer Nascimento já sabia o que queria ser: Xuxa Meneghel. Espectadora fiel do Xuxa Park, game show da Globo entre 1994 e 2001, a menina sonhava em virar uma apresentadora de TV que também cantasse, dançasse e animasse a plateia. Quando assistiu ao comercial de uma agência de modelos, pediu aos pais, uma dona de casa e um técnico de futebol infantil do Corinthians, para fazer um teste. A empresa acabou não contratando Jeniffer, mas ela não desistiu de tornar-se artista. “Entrar nessa vida foi uma decisão minha feita muito cedo”, relembrou a atriz a VEJA. Hoje, aos 32 anos, ela não virou uma apresentadora à la Xuxa, mas vive sua primeira protagonista: Dita, a mocinha da novela das 6 da Globo, Êta Mundo Melhor!, de Walcyr Carrasco e Mauro Wilson.
Para uma jovem criada no Cohab 1, conjunto habitacional na periferia de São Paulo, as expectativas poderiam ser menores — mas não para a determinada Jeniffer, que cresceu ouvindo Whitney Houston e cantando em karaokês da família. Após assinar com uma agência, a paulistana deu seus primeiros passos na publicidade e na figuração, enquanto as conciliava com aulas de teatro — isso, desde os 8 anos. Aos 14, conquistou papel na montagem brasileira do musical da Broadway Hairspray, dirigida por Miguel Falabella em 2009. Chamou a atenção de Edson Celulari, protagonista da peça, que a presenteou com um curso de teatro de um mês em Nova York. “Ele via muito a minha paixão por aquilo tudo e apostou em mim”, conta Jeniffer.
De volta ao Brasil, ela fez pontas na sitcom Toma Lá, Dá Cá e em Malhação (2015). No ano seguinte, veio a personagem Dita, coadjuvante de Êta Mundo Bom!, novela que deu origem à atual Êta Mundo Melhor!. Depois, atuou em diversos folhetins, de Pega Pega (2017) a Cara e Coragem (2022), além de vencer a gincana musical Popstar, em 2018. Na nova trama das 6, Carrasco dá vazão ao talento de Jeniffer para a música, evoluindo a personagem de mera serviçal a cantora de rádio e novo par romântico do mocinho, Candinho (Sergio Guizé).
Num tempo em que autores são criticados por não escreverem boas tramas para mocinhas negras, Jeniffer enaltece os bastidores da novela por evitar incorreções. “Teve uma cena em que a Dita pediria desculpas após sofrer racismo, mas nós discutimos e vimos que não fazia sentido”, revela. Se na ficção Dita pediu demissão após ser impedida de levar o filho em uma turnê pelo Brasil, o mesmo não se reflete na vida real, já que a intérprete conta com os pais como rede de apoio para cuidar de Lara, sua filha de 1 ano e 9 meses, dando espaço para ela se destacar cada vez mais na TV. É impossível calar uma voz tão potente.
Publicado em VEJA de 19 de setembro de 2025, edição nº 2962