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Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming
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Linguagem neutra embala cobertura olímpica ‘não-binária’ na TV

Futebol feminino e skate protagonizaram narração com uso de pronomes desconhecidos do público mais velho e explicações sobre os gêneros "fluidos"

Por Amanda Capuano Atualizado em 26 jul 2021, 18h57 - Publicado em 26 jul 2021, 18h38
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  • Quem assistiu à transmissão das provas olímpicas de skate no domingo, 25, deve ter percebido que Karen Jonz, quatro vezes campeã mundial de skate vertical, usou pronomes até então desconhecidos do grande público durante a transmissão no Sportv. A skatista, que tem comentado as competições da modalidade no canal, alertou o público ao vivo que ela e os companheiros de bancada estavam pesquisando sobre o uso adequado de pronomes, já que Alana Smith, skatista que recentemente se revelou não-binário, competiria na bateria seguinte. “Vocês desculpem se a gente cometer alguns erros. É um assunto muito importante de ser apresentado aqui porque acredito que muita gente não saiba”, falou à audiência.

    Quando Alana entrou na pista, Karen e os companheiros se esforçaram para usar os pronomes “elu” e “delu”, os correspondentes em português ao “they/their” adotados por Alana no inglês, mas falharam nas palavras com flexão de gênero, que foram usadas majoritariamente no feminino. O “erro” dos comentaristas indica que a tal linguagem neutra, que vem ganhando força na internet, não é tão intuitiva, e exige certa dose de treino para ser adotada no dia a dia. A tentativa, porém, mostra que a televisão, um ambiente com um público em tese mais conservador em relação aos usuários de streaming, está se abrindo para a modernidade.

    Também durante o jogo entre Japão e Canadá no futebol olímpico feminino, a narradora Natalia Lara adotou o pronome neutro, dessa vez na tela da Globo, para se referir a Quinn, atleta canadense que se identifica como trans não-binário (nasceu com o sexo biológico feminino, mas não se identifica nem como homem, nem como mulher). “Vou usar um pronome de Quinn para a entrada da Rose. Quinn que é uma pessoa trans não-binária, por isso a gente fala com o pronome neutro. Então, saindo Quinn para a entrada da Rose”, explicou. “Elu jogou muito bem ali no meio campo, marcou demais”, complementou o comentarista Conrado Santana. Em tempo: nem Alana, nem Quinn passaram por qualquer tipo de transição hormonal – seguem, portanto, competindo sem problemas nas categorias femininas.

    As duas situações são um reflexo do tempo atual e resumem o espírito da própria Olimpíada. Segundo um levantamento do site OutSports, há pelo menos 160 atletas assumidamente membros da comunidade LGBTQIA+ competindo em Tóquio – sendo que os dois últimos jogos, somados, totalizaram somente 79 esportistas nessas condições. Entre os 160 está o agora badalado jogador de vôlei Douglas Souza, que virou queridinho da internet. Soma-se a isso o fato de que skate e surfe, que estrearam como as grandes atrações da edição, arrebanharam para os jogos um público mais jovem, já habituado a discussões sobre gênero e sexualidade, e o cenário se torna mais propício que nunca para a “linguagem neutra”. Se ela veio para ficar ou não, só o tempo dirá. Mas que caiu na boca dos comentaristas olímpicos, não há dúvida.

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