O chef que põe celebridades para cozinhar como seus ancestrais
À frente do reality Sabor Caseiro, Antoni Porowski examina as relações íntimas entre celebridades e as receitas de seus antepassados

Aos 29 anos, a atriz inglesa Florence Pugh está quase sempre brilhando em cartaz nos cinemas. Ainda assim, arranja tempo para cozinhar, como atestam seus 9,5 milhões de seguidores no Instagram, com quem compartilha receitas feito uma tia prendada. O traquejo vem de sangue. Para além da mãe e da avó — com quem discute minúcias ao fazer um empadão de carneiro —, a estrela deve seus dotes a um tataravô que servia famosas costeletas em um pub no distrito rural de Yorkshire do Norte, na Inglaterra. A história dele já havia se perdido, assim como a receita do prato suculento, mas a jovem pôde resgatar ambas graças à pesquisa feita pelo reality Sabor Caseiro com Antoni Porowski, nova superprodução culinária já disponível no Disney+.
Comandada pelo guru do título, a atração convida, em sua primeira temporada, seis celebridades para protagonizar cada episódio: além de Pugh, os atores Awkwafina, Justin Theroux, James Marsden, Issa Rae e Henry Golding. Com origens genéticas e culinárias que passam pela Coreia do Sul, Itália, EUA, Senegal e Malásia, cada um viaja ao respectivo berço, se aprofunda na história de seus antepassados e descobre novos significados para comidas do dia a dia. No caso de Marsden, por exemplo, o prato era um frango frito ao estilo de Oklahoma, mas a receita logo se revelou mais rica do que aparentava. “Descobrimos a linda relação entre imigrantes alemães e escravos libertos, que criaram o que hoje conhecemos como churrasco americano. E aí, cruzando o Atlântico para a Baviera, se percebe que aquele frango é, claro, schnitzel. Até os pratos mais modestos têm muita história por trás”, disse Porowski a VEJA.

Canadense e filho de imigrantes poloneses, o chef entende isso bem. Formado em psicologia e teatro, Porowski também é predisposto à curiosidade sobre os outros — e já a exercia enquanto se sustentava como ajudante, depois garçom e então gerente de restaurantes. Tornou-se cozinheiro e, em 2018, ficou famoso no reality Queer Eye, no qual ensina receitas para diletantes. Desde então, já venceu um Emmy e lançou dois livros de receitas. Na nova empreitada, diz ter se inspirado no jeito “despojado e apaixonado” do ator e connoisseur gastronômico Stanley Tucci e na lenda Anthony Bourdain (1956-2018), que era capaz de refletir histórias íntimas e a geopolítica por meio da comida. Como descendente de imigrantes, espera fazer o mesmo e combater a xenofobia: “Precisamos expor o público a novos jeitos de ser”. O tempero de família, mostra o programa, pode unir bem mais que um almoço de domingo.
Publicado em VEJA de 28 de fevereiro de 2025, edição nº 2933