O cruel desafio de ‘Pantanal’ para espantar marasmo de novelas das 9
Apesar do ótimo elenco e das belas paisagens naturais, nova trama do horário indica que história irá demorar para engatar de vez
A estreia da nova aposta da Rede Globo para o horário nobre, Pantanal, encheu os olhos do público com paisagens naturais exuberantes. O bioma, mais devastado do que aquele exibido na primeira versão do folhetim, foi o grande destaque dos primeiros capítulos — e roubou tanto a cena que a apresentação arrastada dos novos personagens ficou perdida no meio do mato. Com dois núcleos principais nesta primeira fase, o remake de Bruno Luperi, neto do autor original, Benedito Ruy Barbosa, teve como foco a relação do peão Joventino (Irandhir Santos), com seu filho José Leôncio (Drico Alves/Renato Góes/Marcos Palmeira), e as disputas por terra vividas pela família Marruá.
A trama conseguiu um feito ótimo para a Globo logo de cara — atingiu 28 pontos de ibope na Grande São Paulo e 32 pontos no Rio de Janeiro. A audiência superou todos os episódios de Um Lugar ao Sol, folhetim exibido na faixa das 21h anteriormente (o que não era uma tarefa difícil). O desfecho da história de Lícia Manzo sobre os gêmeos sem carisma Renato e Christian, vividos por Cauã Reymond, amargou um dos piores finais de novela dos últimos tempos. O mérito de Pantanal em ter vencido sua antecessora na audiência não está ligado ao “sucesso imediato” da nova trama, e sim ao fato de que qualquer escolha da Globo colocaria a novela de Manzo para escanteio com a maior facilidade do mundo.
Desde Amor de Mãe, as produções do horário nobre da emissora têm dado espaço para histórias com diálogos mais trabalhados, dramas mais pesados e com bela fotografia. O grande problema é que características importantes das novelas foram esquecidas, como o equilíbrio entre núcleos cômicos (agora, quase inexistentes) e a trama principal. O começo de Pantanal parece estar indo pelo mesmo caminho. Apesar da excelência técnica e do ótimo elenco, a aridez da vida dos peões ainda não cativa e as perdas da família Marruá, que tem como matriarca Juliana Paes, também não.
A primeira fase do folhetim está preparando, a passos pequenos, a virada para a grande história de amor de Juma (Alanis Guillen) e Jove (Jesuíta Barbosa) — que ainda não nasceram. O que resta ao público é esperar a nova etapa para saber se o remake fará jus ao original e se conseguirá de adaptar ao Brasil de hoje, arrebatando fãs com tanta eficácia quantoa clássica versão da extinta TV Manchete de 1990.