Na adolescência, Diego Freitas, nascido e criado em Mairiporã, região metropolitana de São Paulo, passava horas em lan houses maratonando tutoriais no YouTube sobre como fazer filmes. Aos 14, após trabalhar em alguns bicos, conseguiu comprar uma filmadora e passou a gravar festas de aniversário e casamentos – experiências que o faziam aprender cada vez mais sobre cinema. Graças ao ProUni (Programa Universidade Para Todos), conquistou uma bolsa para estudar rádio e TV em uma faculdade particular. Após alguns anos estudando, passou em seu primeiro edital de lei de incentivo à cultura, lançou um filme em que atuou em todas as funções e passou por várias mudanças ao se mudar para a capital paulista. Depois de alguns perrengues e alguns sopros de sorte, conquistou o posto de diretor. Hoje, aos 33 anos, tem em seu currículo dois filmes nacionais da Netflix que fizeram grande sucesso ao redor do mundo: Depois do Universo (2022) e O Lado Bom de Ser Traída (2023). Em entrevista a VEJA, o cineasta fala sobre o projeto recente protagonizado por Giovanna Lancellotti e do preconceito contra obras sensuais.
O thriller sensual ocupou o top 10 de produções mais vistas em língua não inglesa da Netflix por quatro semanas seguidas, acumulando 14,7 milhões de visualizações e 24,3 milhões de horas assistidas na semana de sua estreia e figurando no ranking de 87 países. Já Depois do Universo alcançou 51 milhões de horas assistidas nos primeiros 28 dias na plataforma. Até hoje, os dois filmes foram as obras nacionais de maior sucesso do serviço da Netflix.
Confira a entrevista na íntegra:
Por que acha que thrillers sensuais fazem tanto sucesso com o público? Vimos esse tipo de filme fazendo muito sucesso no mundo inteiro, mas existe uma literatura “hot” brasileira extremamente relevante que tem muitas leitoras fiéis, então temos aqui um comportamento do público, principalmente de mulheres, com grande interesse em histórias sensuais. Eu não conhecia tanto esse universo até me convidarem para dirigir O Lado Bom de Ser Traída, mas então me aproximei da autora do livro, a Sue Hecker, e vi a ótima oportunidade de fazer um filme brasileiro desse tipo, cheio de potencial, porque existe um mercado quente para isso. Fico muito feliz que o filme funcionou para esse tipo de público não só aqui como lá fora também. Ficamos em terceiro lugar nos Estados Unidos, o que é um feito inédito para Netflix Brasil. É muito bom ver o talento brasileiro representado em tantos países.
É muito difícil dirigir tantas cenas com nudez e sexo? É na verdade bem fácil, porque essas cenas são tratadas como uma dança, uma coreografia, então contamos com uma ótima coordenadora de intimidade. E o principal é também ter um set que seja um ambiente respeitoso e seguro, onde os atores se sintam seguros e possam se entregar às cenas de verdade. Também fazemos muitos ensaios, temos o menor número de pessoas no set durante as filmagens de cenas mais quentes, então os atores não podem sair colocando a mão onde não foi combinado antes. Mas o trabalho de coordenação de intimidade, que existe há poucos anos, é muito importante.
Acha que existe um preconceito com filmes desse tipo? Com certeza e só porque é um gênero voltado ao público feminino. Fazem filmes para o público masculino, como John Wick, que tem um monte de cena de ação e de violência, mas não criticam tanto a questão da verossimilhança quanto fazem em relação a filmes de apelo erótico. É hipocrisia.
Você também dirigiu Depois do Universo, outro filme brasileiro que furou a bolha brasileira na época em que foi lançado, mas com um romance mais jovem adulto. Como foi fazer esse salto de amor juvenil ao erotismo puro? Acho que a minha carreira nunca foi de um gênero só. Meu primeiro filme foi um terror chamado O Segredo de Davi, mas eu vim de um pai pernambucano e barbeiro que veio tentar a vida em São Paulo e uma empregada doméstica e costureira, então eu não tive um berço de elite, não viajei o mundo, nem sou herdeiro como boa parte dos cineastas brasileiros geralmente são, então eu quis trazer filmes que tocassem o meu coração e que falassem com as minhas pessoas, que são minha família. Eu sempre quis que a minha mãe,infelizmente já falecida, pudesse assistir um filme meu e entendesse. Então gosto de fazer filmes populares, e quando recebi o convite para dirigir O Lado Bom de Ser Traída, vi como um desafio importante abordar esse lado da literatura que ainda não conhecia.
Acompanhe notícias e dicas culturais nos blogs a seguir:
Tela Plana para novidades da TV e do streaming
O Som e a Fúria sobre artistas e lançamentos musicais
Em Cartaz traz dicas de filmes no cinema e no streaming
Livros para notícias sobre literatura e mercado editorial