Desde 2020, o Big Brother Brasil proibiu os participantes de levarem livros para dentro do reality da Globo. O motivo para isso foi a edição do BBB 19, quando algumas sisters, como Ana Clara, acabavam lendo por horas, o que diminuía a interação com os colegas. Não à toa, foi uma das piores temporadas do programa em termos de audiência e que provocou a reformulação do elenco, agregando famosos à competição que até então só recebia anônimos. Outros itens, como fotos e saltos de bico fino, também são vetados pela produção. Segundo a própria Ana Clara em um podcast, o veto à literatura começou após ela ter lido sete obras ao longo da temporada, um deles ela teria lido cinco vezes. Em entrevista a VEJA, o escritor Fabrício Carpinejar, autor de livros como Manual do Luto (2023, editora Record), lamenta a falta de interessa da emissora em incentivar a cultura literária.
Para o autor, o reality comete uma grande erro ao não aproveitar o potencial que a leitura oferece. “É paradoxal, você tem uma sala que tem uma biblioteca cenográfica. É irônico, chega a ser sarcástico, porque tem um fundo de livros, mas não tem um único livro na casa. Você não pode levar um livro. Isso está vetado desde 2019, quando a Ana Clara lia livros no quarto. E veja só a influência positiva do livro. A Ana virou apresentadora do próprio Big Brother, ou seja, aquela leitora assumiu um papel de destaque, proeminência intelectual ali, a ponto de ser contratada pela Globo. Sua leitura não a impediu de chamar atenção, de virar finalista da edição. O livro não encolhe uma participação, pelo contrário, potencializa. Ela é prova viva disso”, explicou Carpinejar.
“A Vanessa Lopes, uma das participantes [que desistiu do programa nesta sexta-feira, 19], mencionou o livro 1984, de George Orwell, e já disparou as vendas dele em alguns sites. Olha o potencial da literatura brasileira que estamos perdendo. Temos a oferecer figuras como Itamar Vieira Junior, da Bahia, Conceição Evaristo e Carla Madeira, de Minas Gerais, autores best-sellers brasileiros que assumiram a liderança de listas de mais vendidos antes ocupadas só por autores internacionais. Existe uma desigualdade artística na casa mais vigiada do Brasil. Eles fazem uma seção pipoca com filmes e séries brasileiros, trazem artistas musicais que estão nas paradas de sucesso do Brasil, mas ao mesmo tempo, não dão espaço para a literatura”, argumentou o poeta.
“Eles incentivam o cinema e a música, mas não incentivam a literatura, porque vai inibir a interação e os diálogos, mas depois que eu leio um livro eu quero sair contando a história para todo mundo. Ninguém lê sem vontade de sacudir os outros com as reflexões de um livro, é o ímpeto natural. Por que não podemos ser fofoqueiros de livros?”, conclui o escritor.
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