O papel de Salma Hayek nos bastidores de ‘Como Água para Chocolate’
Minissérie mistura romance, crítica social e realismo mágico em uma trama sob medida para os fãs de novelões
Na década de 1990, aos 20 e poucos anos, a atriz Salma Hayek se mudou do México para os Estados Unidos com o intuito de investir na carreira internacional. Sob a sina que atinge boa parte dos imigrantes, ela penou para se adaptar ao novo país e à nova língua. O conforto e o incentivo para persistir vieram do sucesso do filme Como Água para Chocolate (1992), adaptação do livro de mesmo nome, da autora mexicana Laura Esquivel. O longa, falado majoritariamente em espanhol, ajudou a furar a bolha da resistência americana e europeia com tramas latinas e ganhou indicações ao Globo de Ouro e ao Bafta. Hoje, aos 58 anos, bem-sucedida e assinando com o sobrenome do marido, o magnata francês François-Henri Pinault, a atriz e produtora lança uma nova adaptação do título em formato de minissérie com seis episódios na HBO e na plataforma Max. “Eu amo o livro, é muito sensual”, disse Salma a VEJA. “É sobre tradições e família. Elas podem ser nocivas, mas também podem nos fazer mais fortes”, completou a mexicana.
Como Água Para Chocolate – Laura Esquivel
Do filme Frida (2002), no qual ela também atua como protagonista, até Como Água para Chocolate, Salma usa sua influência e habilidade narrativa para iluminar histórias de seu país natal. Nos últimos anos, ainda mais envolvida com os bastidores do que com a atuação, ela ganhou o empurrão das plataformas de streaming, as quais reconhecem quão populares são os melodramas latinos. “Nós gostamos de intensidade, de paixão e de drama. Provavelmente porque nossos países passaram por muitos sofrimentos”, teoriza Salma.
A Revolução Mexicana – Carlos Alberto Sampaio Barbosa
Novelas, espelho mágico da vida – Soleni Biscouto Fressato
Cheia de reviravoltas, como um novelão mexicano raiz, a minissérie segue Tita (Azul Guaita), que é apaixonada por Pedro (Andrés Baida), mas impedida de casar com ele por sua mãe, Elena (Irene Azuela), que sempre a rejeitou e esconde o motivo por trás desse desprezo. A matriarca viúva alega que, pela tradição, sua filha caçula deve ficar solteira para cuidar dela até sua morte, e sugere que o mocinho se case com Rosaura (Ana Valeria Becerril), a primogênita. O galã aceita para poder ficar perto de Tita, mesmo que isso signifique fazer a amada sofrer amargamente o peso de vê-lo casado com sua irmã. Com a Revolução Mexicana (1910-1917) como pano de fundo, a produção ainda fala sobre desigualdade social enquanto ganha toques de realismo mágico: a protagonista possui o dom de passar suas emoções para as receitas que prepara, seja amor, seja tristeza, e, por consequência, para quem prova sua comida. Para quem gosta de um bom tempero latino, eis aí um prato cheio.
Publicado em VEJA de 8 de novembro de 2024, edição nº 2918