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‘O Problema dos 3 Corpos’: entenda a nova ficção científica da Netflix

Baseada na obra de Cixin Liu, a série atesta a força da ficção científica made in China com enredo humanista sobre invasão de ETs

Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jun 2024, 17h18 - Publicado em 15 mar 2024, 06h00
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  • NOVA DIMENSÃO - Simulação de jogo: aliens que dominam as mentes
    NOVA DIMENSÃO - Simulação de jogo: aliens que dominam as mentes (./Netflix)

    Em 1966, no auge do fervor destrutivo da Revolução Cultural na China comunista, a astrofísica Ye Wenjie (Zine Tseng) vê seu pai, um professor da mesma área, ser espancado até a morte por jovens revolucionários. Seu delito: não renegar as teorias de Albert Einstein, considerado — haja cegueira obscurantista — um aliado do imperialismo ocidental. Mais tarde, a própria Ye é perseguida, mas o regime maoísta a perdoa em troca de seus préstimos científicos para uma organização oficial envolvida numa missão singular. Enquanto Rússia e Estados Unidos lançavam-se na corrida espacial, a China, secretamente, queria ir além: buscava contato com forças extraterrestres. Essa hipótese fantasiosa, mas irresistível para a ficção, é explorada na série O Problema dos Três Corpos, que estreia seus oito episódios na próxima quinta, 21, na Netflix.

    Com roteiro dos poderosos David Benioff e D.B. Weiss (dupla de Game of Thrones) e produção de Alexander Woo (True Blood), a trama lança luz sobre um fenômeno maior do entretenimento: a ascensão de uma nova ficção científica produzida na China — e aparentemente, mesmo contendo certas farpas políticas, tolerada e até estimulada pela ditadura de Pequim. A façanha cabe ao escritor Cixin Liu, criador do intrincado O Problema dos Três Corpos (2008) e dos dois livros que completam a saga até agora, A Floresta Sombria e O Fim da Morte. Neles, fala-se de um mote reciclado à exaustão na literatura, no cinema e na TV desde o clássico Guerra dos Mundos (1897), do inglês H.G. Wells: a ideia de um conflito iminente entre os humanos e ETs decididos a dominar a Terra. Cixin Liu, no entanto, consegue injetar frescor nessa premissa antiga ao dotá-­la de sutileza, dilemas existencialistas e, principalmente, de uma base teórica engenhosa, que vai da mecânica quântica à inteligência artificial.

    GUARDIÕES - Os cientistas da série: perseguidos por forças terríveis
    GUARDIÕES - Os cientistas da série: perseguidos por forças terríveis (Ed Miller/Netflix)

    Adaptada com autorização de seu criador, a série da Netflix realça o elemento central da obra de Cixin Liu: a defesa do valor intrínseco da liberdade científica como guardiã, em última instância, da civilização. Logo no início de O Problema dos Três Corpos — título que se refere a um velho debate da física sobre a interação de forças gravitacionais —, a protagonista Ye Wenjie toma uma decisão solitária de altíssimo impacto. Desiludida com o ambiente de terror em seu país e a Guerra Fria, ela tem uma reação de desespero ao obter sucesso na comunicação com alienígenas por meio da imensa antena do laboratório governamental: mesmo alertada pelos próprios de que eles só viriam à Terra para nos dominar, ela insiste que venham. Após quase sessenta anos, a decisão desencadeia uma série de suicídios de cientistas em Londres, obrigando o agente antiterrorista Clarence Da Shi (Benedict Wong) a começar uma investigação conturbada por forças além de seu entendimento, que manipulam mentes através de um game ativado por um capacete misterioso. Famoso por interpretar o fiel escudeiro do Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) no universo da Marvel, Wong dá vida ao detetive que precisa impedir o apocalipse. “A série nos obriga a fazer perguntas sobre a sociedade e o destino da humanidade”, explicou o ator a VEJA (leia abaixo).

    Para dominar os humanos, enfim, os ETs sabotam os avanços científicos de estudiosos brilhantes. O enredo ganha toques perturbadores ao especular como uma parcela das pessoas se renderia aos aliens ao vê-los como divindades — uma clara alegoria sobre os perigos do fanatismo religioso e político. Cixin Liu, de 60 anos, sabe bem do que fala em sua obra. Nascido na província de Shanxi, onde ainda mora, e criado na Revolução Cultural, ele via seu pai esconder livros de mestres da ficção científica como Arthur C. Clarke por medo da repressão. Só na virada dos anos 1980, quando o comunismo chinês reviu sua visão sobre a ciência, é que eles foram aceitos. Engenheiro da computação, Liu temeu censura quando começou a escrever, mas garante que até hoje não sofreu represálias. Se chegassem hoje por aqui, nem os aliens duvidariam que suas obras são um negócio da China.

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    “É uma série corajosa”

    Famoso como personagem da Marvel, o inglês Benedict Wong fala a VEJA sobre O Problema dos Três Corpos e suas mensagens políticas:

    CONECTADOS - Wong como Da Shi: investigador busca respostas
    CONECTADOS - Wong como Da Shi: investigador busca respostas (./Netflix)

    O que pensou ao ler o roteiro de uma série tão cheia de complexidades científicas? Vi algo de magnitude. É uma série que nos obriga a fazer perguntas sobre os dilemas da sociedade e o destino da humanidade.

    Como descendente de chineses, como vê a citação da Revolução Cultural? Acho muito corajosa. Mostra o período de forma sensível. A trama foi criada por um chinês, claro, mas é universal: uma jovem vê seu pai ser morto e quer mudar o mundo.

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    Qual a motivação de seu personagem, Da Shi? Ele é um agente brilhante que atua contra o terrorismo, quer ajudar as pessoas — mas é um péssimo pai.

    Como foi interpretar um homem comum em vez de um herói da Marvel? Foi legal e revigorante, para ser sincero.

    Publicado em VEJA de 15 de março de 2024, edição nº 2884

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