O talentoso autor Gustavo Pinheiro chega à Globo com filme ‘A Lista’
Carioca se confirma como um dos mais inspirados e prolíficos de sua geração

“Desde o começo, eu falava: ‘Isso aqui vai dar um filme’ ”, diz o dramaturgo e jornalista Gustavo Pinheiro, de 44 anos, sem delongas. Para ele, é, de fato, simples assim: nos últimos dez anos, o autor carioca fez barulho ao criar onze peças, nove delas originais — três publicadas pela editora Cobogó após encenadas. A frase se refere a uma em especial: A Lista. Protagonizada por Lilia Cabral e sua filha, Giulia Bertolli, ela nasceu como apresentação on-line pandêmica, com meros quarenta minutos de duração. Ao fim das restrições, cresceu e passou a encher plateias, tornando-se um sucesso visto por mais de 70 000 espectadores. Na segunda-feira 17, mais de quatro anos após sua estreia, chega à última metamorfose: agora como telefilme exibido pela Globo, primeiro de uma programação inédita no Tela Quente.
Na trama, Lilia é a professora aposentada Laurita, que vive sozinha e amargurada em um apartamento de Copacabana, no qual administra cuidadosamente sua restrita vida social. A covid-19, contudo, força sua convivência com a jovem vizinha Amanda, que se oferece para fazer as compras dos idosos do prédio. A partir das queixas rabugentas, floresce uma amizade transformadora, que abre novos horizontes para a sexagenária após o fim da quarentena. Esperançosa, a jornada homenageia o bairro em que se passa — que o autor enxerga como “uma metáfora para o Brasil”. Também celebra os globais mais veteranos: as participações especiais incluem feras do porte de Tony Ramos, Anselmo Vasconcellos, Betty Faria, Rosamaria Murtinho, Tony Tornado e Reginaldo Faria.

O elenco, de fazer inveja aos atuais folhetins e seus influenciadores-atores, sintetiza a moral como autor e a identidade criativa de Pinheiro, que tem como referência as crônicas do cotidiano escritas por Mauro Rasi, Manoel Carlos e Naum Alves de Souza. Segundo ele, é nesse olhar para a vida comum que se garante a relação sadia com os espectadores. “Gosto que a plateia entenda. Ela pode até não gostar, mas entendeu aquilo que foi apresentado. Por muito tempo isso não foi priorizado, e assim perdemos muitos que saíam do teatro ou do cinema se achando burros. O público não pode ser excluído”, defende.
Com tal filosofia, ele planeja manter a alta produtividade que o trouxe até aqui. Antes de estrear A Lista na TV, já trabalha em um novo longa sobre Gregório Fortunato, guarda-costas de Getúlio Vargas, a pedido do produtor indicado ao Oscar Rodrigo Teixeira. Planeja também adaptar ao cinema a peça Dois de Nós, com Antonio Fagundes, e trará Dúvida, que virou filme com Meryl Streep em 2008, para os palcos nacionais. A depender desse talento incansável, o público sempre sairá no lucro.
Publicado em VEJA de 14 de fevereiro de 2025, edição nº 2931