Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Tela Plana

Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming
Continua após publicidade

‘Os Anéis de Poder’: desafios da série bilionária sobre saga de Tolkien

Lançamento é embalado por um orçamento sem precedentes na história da TV — e por uma injeção notável de diversidade na obra monumental do autor

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h22 - Publicado em 2 set 2022, 06h00

J.R.R. Tolkien (1892-1973) tinha 24 anos quando pausou seus estudos na Universidade de Oxford para servir no Exército britânico na I Guerra Mundial. No front, em 1916, o autor testemunhou diversas atrocidades. Sua mente, então, encontrou um refúgio peculiar: à luz de velas, nas trincheiras, Tolkien verteu a experiência tenebrosa no rascunho de um mundo habitado por seres fantásticos. O exercício de fuga foi o embrião do que viria a ser o monumental O Senhor dos Anéis, editado em três volumes entre 1954 e 1955. A história sobre um anel que tem a maldade como matéria-prima — e confere poderes sobrenaturais a seu portador — foi lida, ao fim da II Guerra, como uma metáfora sobre o nazismo e o temor de um conflito nuclear. Tolkien negou a alegoria: segundo ele, O Senhor dos Anéis era um alerta a respeito do amor cego pelo poder.

ELFOS SUPERPODEROSOS - O alto-rei Gil-galad (Benjamin Walker), a guerreira Galadriel (Morfydd Clark) e o sábio Elrond (Robert Aramayo) são elfos imortais. Eles apareceram na trilogia de Peter Jackson, vividos por outros atores — com destaque para Cate Blanchett e Hugo Weaving na pele dos dois últimos. “Na série, Elrond está no processo de se tornar o líder que vimos nos filmes”, diz Aramayo -
ELFOS SUPERPODEROSOS – O alto-rei Gil-galad (Benjamin Walker), a guerreira Galadriel (Morfydd Clark) e o sábio Elrond (Robert Aramayo) são elfos imortais. Eles apareceram na trilogia de Peter Jackson, vividos por outros atores — com destaque para Cate Blanchett e Hugo Weaving na pele dos dois últimos. “Na série, Elrond está no processo de se tornar o líder que vimos nos filmes”, diz Aramayo – (Ben Rothstein/Amazon Prime Video/.)

O Hobbit

Quase sete décadas depois, a trilogia — adaptada com louvor por Peter Jackson para o cinema, entre 2001 e 2003 — conserva sua força extraordinária. Uma atemporalidade que será posta à prova na nova e ambiciosa (e bota ambiciosa nisso) aposta do Prime Video, da Amazon: nesta sexta-feira, 2, chegam à plataforma de streaming os dois primeiros episódios de O Senhor dos Anéis: os Anéis de Poder. A superprodução em oito capítulos levou quatro anos para ser filmada e se tornou a série mais cara da história da TV: uma montanha de 1 bilhão de dólares foi investida em duas temporadas. Isso sem contar os 200 milhões de dólares pagos por Jeff Bezos pelos direitos da obra de Tolkien, em 2017.

A dinheirama mostra seu valor na tela. Cenários e figurinos exuberantes fazem das cenas quase quadros de cores impressionistas. O clima idílico e hipnótico destoa da crueza brutal de um Game of Thrones — universo que, com a recente estreia de A Casa do Dragão, da HBO, vai disputar espectadores na propalada “guerra da fantasia” com Os Anéis de Poder. Ambas, porém, são propostas tão distintas que podem ser desfrutadas cada uma a seu modo, e por diferentes públicos.

DE OUTRO MUNDO - Os vilanescos Orcs: seres feiosos saídos das lendas anglo-saxãs -
DE OUTRO MUNDO - Os vilanescos Orcs: seres feiosos saídos das lendas anglo-saxãs – (Matt Grace/Amazon Prime Video/.)

A Sociedade do Anel

Continua após a publicidade

Gravada na Nova Zelândia, onde Jackson também rodou seus longas de sucesso, a série constitui, em si, um desafio peculiar. Ao contrário da trilogia conhecida e de O Hobbit, livro infantil de 1937 adaptado para o cinema entre 2012 e 2014 também por Jackson, Os Anéis de Poder constrói sua trama não a partir de um livro completo, mas de pistas deixadas por Tolkien no apêndice da trilogia original. Ou seja: há uma boa dose de voo livre dos roteiristas, que se arriscam assim a tocar no intocável: a obra de um autor que concebeu uma mitologia de lógica interna complexa e única. O risco de acusações de heresia por parte dos seguidores mais fanáticos é real e concreto — e a gritaria, claro, começou antes mesmo da estreia.

ANCESTRAIS DOS HOBBITS - Bem antes de Frodo Bolseiro, havia os pés-peludos, pequenos seres nômades que se esforçavam para não atrair atenção. Nori (Markella Kavenagh, no centro) e Poppy (Megan Richards, à dir.) vão quebrar essa invisibilidade. Com 21 e 23 anos, elas são as mais jovens do elenco. “Descobri o mundo de Tolkien com a série”, conta Megan -
ANCESTRAIS DOS HOBBITS – Bem antes de Frodo Bolseiro, havia os pés-peludos, pequenos seres nômades que se esforçavam para não atrair atenção. Nori (Markella Kavenagh, no centro) e Poppy (Megan Richards, à dir.) vão quebrar essa invisibilidade. Com 21 e 23 anos, elas são as mais jovens do elenco. “Descobri o mundo de Tolkien com a série”, conta Megan – (Ben Rothstein/Amazon Prime Video/.)

As Duas Torres

Para além da trama, que narra acontecimentos anteriores da Terra Média, continente fictício criado por Tolkien, a megaprodução da Amazon chama atenção por uma ousadia em especial: a trama injeta diversidade racial (e de gênero) em um universo inspirado pelas paixões pessoais do autor, de mitos nórdicos à literatura medieval anglo-saxônica — e uma inabalável fé católica. Com a polarização política, movimentos de extrema direita sequestraram a obra de suposta brancura ariana para si, atendo-se ao histórico conservador de Tolkien. Quando atores negros entraram para a série, não deu outra: manifestações racistas eclodiram nas redes sociais. Um alvo foi o porto-­riquenho Ismael Cruz Córdova, que dá vida ao elfo Arondir. Segundo os críticos, elfos não podem ser negros — argumento amparado na obsoleta premissa de que Tolkien escreveu sobre heróis europeus. “Estou comprometido em ser autêntico, espero representar pessoas como eu, mesmo que isso incomode”, disse o ator a VEJA (leia sobre os personagens ao longo da reportagem).

FÃ DE CAPOEIRA - A curandeira Bronwyn (a iraniana Nazanin Boniadi, à esq.) e Arondir (o porto-riquenho Ismael Cruz Córdova, no centro) vão viver um romance proibido — ela é humana e ele, um elfo. Córdova fala português e tem relação curiosa com o Brasil. “Sempre me perguntam se sou baiano”, diz o ator, que luta capoeira em cena -
FÃ DE CAPOEIRA – A curandeira Bronwyn (a iraniana Nazanin Boniadi, à esq.) e Arondir (o porto-riquenho Ismael Cruz Córdova, no centro) vão viver um romance proibido — ela é humana e ele, um elfo. Córdova fala português e tem relação curiosa com o Brasil. “Sempre me perguntam se sou baiano”, diz o ator, que luta capoeira em cena – (Ben Rothstein/Amazon Prime Video/.)
Continua após a publicidade

O Retorno do Rei

A reação reflete o modo como a odisseia de Tolkien transita pelo tempo. Sua mensagem esperançosa caiu bem nos anos pós-guerra, quando os livros saíram. Já os filmes de Jackson viraram um chamado à resistência do bem contra o mal após os atentados de 11 de setembro. A série, agora, depara com a tensão entre discursos autoritários e a luta das minorias por visibilidade. “Tolkien questiona sobre o que você sacrificaria para lutar contra o mal e a intolerância, pergunta que nos diz respeito hoje”, diz o espanhol J.A. Bayona, diretor da série.

A “ATLÂNTIDA” DA TERRA MÉDIA - Míriel (Cynthia Addai-Robinson) é a rainha de Númenor, uma ilha de humanos com sangue de elfos que, na era retratada pelos filmes de O Senhor dos Anéis, já havia sumido do mapa — ecoando o mito do reino de Atlântida. A série será a primeira a retratar esse reino — e fará isso com diversidade. “Pude explorar as nuances de ser uma mulher e líder”, diz Cynthia -
A “ATLÂNTIDA” DA TERRA MÉDIA – Míriel (Cynthia Addai-Robinson) é a rainha de Númenor, uma ilha de humanos com sangue de elfos que, na era retratada pelos filmes de O Senhor dos Anéis, já havia sumido do mapa — ecoando o mito do reino de Atlântida. A série será a primeira a retratar esse reino — e fará isso com diversidade. “Pude explorar as nuances de ser uma mulher e líder”, diz Cynthia – (Ben Rothstein/Amazon Prime Video/.)

Questões políticas à parte, Os Anéis de Poder explora, de forma envolvente, a gênese dos artefatos mágicos que dão nome à saga. A série volta milênios no passado em relação aos eventos tanto da trilogia quanto de O Hobbit, para mostrar como o vilão Sauron, líder dos terríveis Orcs, criou um anel do mal para chamar de seu. O universo de Tolkien é de uma riqueza imensurável — ainda mais com uma injeção extra de 1 bilhão de dólares.

Publicado em VEJA de 7 de setembro de 2022, edição nº 2805

Continua após a publicidade

CLIQUE NAS IMAGENS ABAIXO PARA COMPRAR

‘Os Anéis de Poder’: desafios da série bilionária sobre saga de Tolkien‘Os Anéis de Poder’: desafios da série bilionária sobre saga de Tolkien
O Hobbit
‘Os Anéis de Poder’: desafios da série bilionária sobre saga de Tolkien‘Os Anéis de Poder’: desafios da série bilionária sobre saga de Tolkien
A Sociedade do Anel
Continua após a publicidade
‘Os Anéis de Poder’: desafios da série bilionária sobre saga de Tolkien‘Os Anéis de Poder’: desafios da série bilionária sobre saga de Tolkien
As Duas Torres
‘Os Anéis de Poder’: desafios da série bilionária sobre saga de Tolkien‘Os Anéis de Poder’: desafios da série bilionária sobre saga de Tolkien
O Retorno do Rei
logo-veja-amazon-loja
Continua após a publicidade

*A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.