Em novembro de 2006, foi ao ar na TV um episódio da sitcom The Office de alto impacto para a comunidade indiana americana. Intitulado Diwali, o programa retratou o tradicional festival hindu sob o olhar da afiada personagem Kelly Kapoor. Essa seria apenas a primeira contribuição da atriz, roteirista e produtora Mindy Kaling, hoje aos 43 anos, na representação dos americanos de ascendência indiana na televisão. Nos primórdios de The Office, Mindy era a única mulher em uma equipe de oito roteiristas. De lá para cá, tornou-se parte da elite da comédia de Hollywood, fazendo valer sua força como mulher indo-americana que trata sobre amor e sexo de forma livre e questiona os preconceitos culturais — marca com que agora carimba produções de sucesso no streaming.
Todo mundo foi convidado, menos eu?: (E outras situações)
Mindy é filha de uma obstetra e um arquiteto indianos que se conheceram na África e migraram para os Estados Unidos, onde ela nasceu. Foi descoberta como artista pelo criador de The Office, Greg Daniels, por meio de uma peça de teatro. Ao lado de Tina Fey e Rebel Wilson, ela encabeça uma geração de comediantes que se distinguem pelo texto inteligente, sarcástico e feminista. Seus trabalhos ganham ainda uma camada extra de tempero com seu humor autobiográfico. É de Mindy o hit adolescente da Netflix Eu Nunca…, cuja protagonista indo-americana tenta sobreviver ao ensino médio enquanto lida com o luto pela morte do pai — enredo inspirado na perda da mãe de Mindy para um câncer em 2012.
A experiência como filha de imigrantes se reflete ainda no recente sucesso da HBO Max A Vida Sexual das Universitárias, que acompanha um grupo diverso de amigas em uma faculdade de elite. Na série, já com uma terceira temporada a caminho, a hilária Bela Malhotra (Amhit Kaur) é um espelho da própria Mindy: a jovem de origem indiana sonha em se tornar comediante, mas precisa enfrentar um campo dominado por homens que são, em sua maioria, verdadeiros babacas.
Pop! The Office – Kelly Kapoor – Casual Friday
Mesmo com seu humor pautado pela diversidade, Mindy não escapa do cancelamento. Sua última empreitada, também na HBO Max, é a controversa Velma, série animada baseada na personagem de Scooby-Doo e voltada para o público adulto. O programa acompanha a juventude da nerd do grupo — a quem Mindy empresta a herança asiática e a própria voz — e sua autodescoberta como lésbica. A série desagradou a espectadores irritados com o suposto “humor raso” da versão ousada da turminha de detetives. Azar dos chatos: Velma foi a animação original mais vista na história da plataforma, e já está renovada para a segunda temporada. Pimenta indiana arde, mas não falha.
Publicado em VEJA de 22 de fevereiro de 2023, edição nº 2829
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