Em frente ao espelho, o super-herói mais forte do mundo vai às lágrimas enquanto conversa com seu próprio reflexo. “Por que você se importa tanto com o que os outros pensam?”, pergunta a imagem refletida no vidro. “Porque eu quero que eles me amem”, responde Homelander (Antony Starr). “Na verdade, lá no fundo, tem uma parte de você que ainda é humana, nojenta, que busca pela aprovação de uma mamãe ou papai”, dispara o outro Homelander. O diálogo fantasioso do supervilão sintetiza a pedra de toque da terceira temporada de The Boys: em crise de identidade, os super-machos da série de sucesso do Amazon Prime Video descobrem sua masculinidade frágil e enfrentam os próprios sentimentos.
The Boys Volume 1: O Nome do Jogo
Na contramão das tradicionais histórias de super-heróis, nas quais esses personagens salvam a humanidade de todo o mal, a produção inovou graças a uma inversão de papéis: aqui, eles se fingem de bonzinhos, mas são seres detestáveis. Nas duas primeiras temporadas, o público fora apresentado ao universo controlado pela Vought International, companhia que cria e administra um exército de heróis que agem como estrelas de Hollywood, e têm atitudes antiéticas longe dos holofotes — analogia óbvia com a vida na era das redes sociais. Além disso, foi possível acompanhar a saga do The Boys, grupo de resistência liderado por Billy Butcher (Karl Urban), seguido por Hughie (Jack Quaid), Mother’s Milk (Laz Alonso) e Frenchie (Tomer Capone) — cujos únicos poderes são a inteligência e a determinação de homens comuns.
The Boys Volume 2: Mandando ver
Após duas temporadas recheadas de muita macheza, explosões, lasers saindo pelos olhos, socos e pontapés, a nova leva de episódios traz todos os protagonistas — seja do lado do bem ou do mal — entrando em parafuso porque precisam lidar com seus demônios internos. Antes, os rivais eram bem definidos. Agora, a conduta até dos corretos The Boys torna-se dúbia, e um inimigo geral se impõe: a tão propalada masculinidade tóxica. Com a autoestima afetada por ela, os fortões entram em crise, e descobrem a necessidade insaciável de ser amados, ainda que resistam ao afeto.
The Boys Volume 3: Bom Para a Alma
Nem só de homens feridos, claro, se faz a trama engenhosa de The Boys: a série prossegue usando os super-heróis corrompidos para expor chagas como racismo e homofobia. Como ocorre em muitas produções de sucesso, o terceiro ano tende a ser o tira-teima que revela se ainda há história que valha ser explorada. Nesse quesito, The Boys cumpre bem a missão. Seus marmanjos em crise provam que, sim, ainda conservam seu charme.
Publicado em VEJA de 8 de junho de 2022, edição nº 2792
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