‘The Umbrella Academy’ e ‘The Rain’ atestam: o fim do mundo é pop
Séries da Netflix acompanham os dilemas de jovens à mercê dos mais absurdos apocalipses
*Aviso: O texto a seguir contém spoilers das séries The Umbrella Academy e The Rain
Em chamas, a Lua se desfaz em pedaços no céu. Enquanto ela despenca rumo à Terra, provocando a morte de bilhões de pessoas, um grupo de irmãos dá um salto no tempo e escapa da morte – mas não foge das consequências do apocalipse. Aliás, foram eles que causaram o fim do mundo. É assim que termina a primeira temporada de The Umbrella Academy, série da Netflix que acaba de ganhar uma segunda leva de episódios – e que rapidamente entrou para a lista de títulos mais assistidos do canal.
No mesmo ranking está a terceira temporada de The Rain, série dinamarquesa que imagina um fim do mundo ainda mais bizarro: uma chuva espalha pelo país escandinavo um vírus mortal, produzido em laboratório. Dois irmãos, presos em um bunker pelo pai cientista que participava do projeto, crescem sozinhos até tomarem coragem para ver se a luz do dia ainda existe. Do lado de fora, encontram inimigos e aliados, mas recebem a notícia: o caçula não só está infectado pelo vírus da cabeça aos pés, como ele próprio é uma versão fantasmagórica do agente infeccioso. Quando se irrita, o rapaz se transfigura e expele uma fumaça mortal. E o que parecia ruim, só piora: o que sobrou do mundo continua sendo infectado pelo vírus. E a natureza está apodrecendo.
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Clique e AssineDestinadas ao público adolescente e protagonizadas por jovens, as duas séries de clima bem distinto compartilham um velho e cada vez mais patente medo: um mundo que chega ao fim para se transformar por completo em outra coisa ainda a ser desvendada. Nesta transição, tudo é testado, até os mais fortes laços familiares.
A literatura juvenil da última década foi tomada por exemplos do tipo, com distopias como Jogos Vorazes e Divergentes. Tramas geralmente conduzidas por temores de cunho político, relacionados a governos ditatoriais que se impõem após períodos de dificuldade. Já as séries do momento ampliaram seus receios para questões como a interferência humana na natureza, especialmente a exploração desenfreada do meio ambiente (caso de The Rain); a desigualdade social (como a nacional 3%); e guerras e armas de destruição em massa (a exemplo da série The 100).
Para além da alegoria ambiental, The Rain ainda calhou de ter uma trama deveras atual para 2020. Em sua terceira temporada, o uso constante das palavras vírus e vacina fazem da atração uma versão fantasiosa da pandemia que o mundo encara diariamente nos noticiários. A atualidade do roteiro, porém, não faz dela um primor. The Rain pode ser um entretenimento instigante, mas seu desenvolvimento e saídas fantasiosas, no que parecia de início ser uma boa ficção científica, beiram o risível.
De todas elas, The Umbrella Academy sai por cima. Assumidamente fantasiosa, a série acompanha seis irmãos adotados por um bilionário que reúne crianças nascidas ao redor do mundo a partir de um evento sobrenatural. Todas têm poderes e habilidades extraordinárias. Quando saltam do fim do mundo em 2019 para o desconhecido, acabam caindo no passado. O resultado de tanta manipulação temporal causa outro dilema gigantesco: uma guerra nuclear destrói o mundo nos anos 1960, outro probleminha a ser resolvido pelo grupo na nova temporada. A riqueza de personagens e de referências seguram o espectador, disposto a passar ao lado destes irmãos sabe-se lá por quantos apocalipses que ainda estão por vir.