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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)

A polarização do buraco de rua

Pesquisas Quaest mostram que entre 43% e 64% dos eleitores das capitais querem votar em candidato de Lula ou Bolsonaro

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 set 2024, 12h12 - Publicado em 9 set 2024, 10h27

Dois anos depois da mais apertada eleição presidencial da história, o Brasil segue dividido entre os que defendem presidente Lula da Silva e os que gostam de Jair Bolsonaro. Mesmo numa campanha para prefeito que, em tese, deveria estar discutindo buraco de rua, preço da passagem de ônibus e remédios nos postos de saúde, Lula e Bolsonaro são onipresentes. A série de pesquisas Quaest/TVGlobo em 22 capitais mostrou que entre 43% e 64% dos eleitores querem votar em alguém apoiado por Lula ou Bolsonaro.

As pesquisas comprovam que a polarização Lula vs Bolsonaro é o novo normal mesmo numa eleição em que as questões nacionais são coadjuvantes. O espaço para candidatos independentes dos dois líderes é pequeno e apenas supera a maioria dos eleitores em duas capitais: Florianópolis (53%) e Porto Alegre (51%).

Na capital mais disputada, São Paulo, 49% preferem um candidato independente, 32% um aliado de Lula e apenas 17% o indicado por Bolsonaro.

Em Recife, segundo a Quaest, apenas 31% dos eleitores gostariam de votar em um candidato independente, sendo que 40% preferem um candidato lulista. De acordo com os levantamentos, as capitais com maior influência do presidente são Salvador (44%) e Recife (41%), enquanto o apoio de Bolsonaro é mais levado em conta em Boa Vista (44%) e Rio Branco (41%). Os detalhes das 22 capitais podem ser vistos aqui.

Cruzando essas preferências com outras perguntas do questionário, o cientista político Felipe Nunes, dono da Quaest, chegou a quatro correlações:

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  • 91% entre quem gostou do governo Bolsonaro e quer um prefeito apoiado pelo ex-presidente;
  • 82% entre quem aprova o governo Lula e quer um prefeito aliado do atual presidente;
  • 74% entre quem desaprovou o governo Bolsonaro e quer um prefeito aliado a Lula;
  • 57% entre quem rejeita o governo Lula e prefere um prefeito aliado a Bolsonaro.

A lição para essa campanha municipal é que a boa avaliação de Lula ou Bolsonaro nas capitais torna de fato o eleitor mais propenso a votar num candidato apoiado por um dos dois lados. A rejeição a Lula ou Bolsonaro, no entanto, não necessariamente leva a buscar um candidato do outro campo político. Isso significa que o apoio explícito do presidente ou do ex-presidente pode ser mais importante do que uma campanha na linha “o candidato X tem o apoio de Bolsonaro (ou de Lula)”.

Tentar entender por que a polarização política entranhou dessa forma na cabeça do eleitor é o maior desafio da sociedade brasileira. A violência grotesca de 8 de janeiro de 2023, a decisão de Lula de ter um governo de pouco diálogo comparado aos anteriores, o protagonismo do STF na cassação dos direitos políticos de Bolsonaro, os vídeos comprovando as intenções golpistas do ex-presidente, a decisão da oposição de usar a anistia aos vândalos como eixo de ação política e o recente surgimento de novos líderes da extrema direita como Pablo Marçal retroalimentam uma espiral de intolerância de lado a lado, na qual cada bolha só escuta o que a sua própria bolha defende. Num clima desses, mesmo uma eleição municipal se transforma numa disputa de visões de mundo.

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