O governo Lula enfrenta dois desafios gigantescos hoje: dar início à reconstrução do Rio Grande do Sul e enfrentar a onda de notícias falsas que podem transformar a ação federal em mais um capítulo da polarização calcificada entre petistas e bolsonaristas. Com a transferência do ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta, para a pasta extraordinária de Reconstrução, Lula tornou muito improvável obter sucesso nas duas missões. Com uma única decisão, Lula cometeu dois erros.
Deputado federal pelo PT gaúcho, Pimenta é o único gaúcho do ministério e se comporta como pré-candidato a governador em 2026. A sua nomeação como coordenador das ações federais para recuperar o Rio Grande contamina o plano com a política partidária e dificulta a trégua com o governador tucano Eduardo Leite. Qualquer discordância com o governo gaúcho, algo natural num cenário tão complicado, será vista como pano de fundo para a disputa eleitoral de 2026. Como mostrou Andreia Sadi, da Globonews, mesmo no PT houve críticas pela nomeação.
Como, em tese, Pimenta voltará para a Secretaria de Comunicação Social quando o plano de reconstrução for encaminhado, o presidente está deixando a sua comunicação acéfala por meses. Seria ruim em condições normais, mas é pior quando os próprios Lula e Pimenta reconhecem a fragilidade do governo nas redes sociais.
A dificuldade da comunicação do governo é consenso. Parte do problema é a competência bolsonarista nas redes. A outra parte vem da divisão da Secom entre Pimenta (que toca, principalmente, a publicidade federal), a primeira-dama Janja da Silva (com fortes opiniões sobre as redes socais oficiais), o secretario de Imprensa José Chrispiniano e o fotógrafo oficial Ricardo Stuckert. Sem Pimenta, a descoordenação da comunicação pode aumentar.
Lula criou dois problemas para si mesmo que só ele pode arrumar, delimitar as ações de Pimenta no Sul (o que pode dificultar o seu trabalho) e nomear um ministro com força para dar um tom único à comunicação oficial.