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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)

O Lula de 2010 e o Lula de 2024

Presidente completa dez anos no poder tendo à frente um futuro com um Trump imprevisível, mercado financeiro desconfiado e economia sofrendo com juros altos

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 1 jan 2025, 10h06

Luiz Inácio Lula da Silva completa hoje, dia 1º, dez anos como presidente do Brasil. Apenas d.Pedro II, entre 1831 até 1889, e Getúlio Vargas, entre 1930-45 e depois 1951-54, comandaram o país por mais tempo, com a diferença brutal de que Lula foi eleito três vezes pelo voto popular. Ao longo de três mandatos, Lula enfrentou a desconfiança do mercado financeiro em 2003, o escândalo do Mensalão de 2005, a crise financeira mundial de 2008, a recessão de 2009 e os preparativos de um golpe militar em 2023, implantou políticas públicas exitosas como o Bolsa Família e o ProUni, fez o Brasil crescer com distribuição de renda e se marcou como um raro líder capaz de gerar consensos entre a esquerda e a direita.

2024, contudo, foi o ano em que este Lula experiente, capaz de unir o País, superar adversidades e agregar opostos, sumiu. Surgiu um outro Lula, mais centralizador, impaciente, convicto de suas certezas e menos disposto a ouvir discordâncias. É um governo que reciclou projetos antigos (PAC, Mais Médicos etc.), sem entender circunstâncias novas, como as redes de solidariedade das igrejas evangélicas, o apelo do empreendedorismo e a resistência ideológica às vacinas. É como se o governo não aceitasse uma premissa básica da sua existência: Lula foi eleito não pelos seus méritos, mas pelos deméritos de Jair Bolsonaro.

Faltando dois anos para o fim do seu terceiro mandato, a questão é se Lula vai dobrar a aposta no modelo 2024 ou se volta ao estilo 2010.

O terceiro governo Lula tem resultados contraditórios. Houve evidentes avanços na macroeconomia, com dois anos seguidos de crescimento acima de 3%, desemprego no índice mais baixo da história recente, massa salarial recorde, aprovação da reforma tributária e assinatura das bases do acordo Mercosul-União Europeia.

A condução da política econômica, contudo, foi de zigue-zague, com o ministro Fernando Haddad servindo de bombeiro para tentar atenuar as contradições de um governo que sabe que precisa de um ajuste fiscal, mas odeia ter de fazê-lo. Lula anunciou que pretendia rever a meta de inflação de 3% ao ano, e depois autorizou que essa mesma meta fosse prolongada para a eternidade. Depois disse que poderia rever a autonomia do Banco Central, para enfim não fazer nada. Disse que não acreditava na meta fiscal de déficit abaixo de 0,3% em 2024, mas autorizou o bloqueio de mais de R$ 20 bilhões do orçamento para cumprir o alvo. Ordenou que a Petrobras não distribuísse dividendos e recuou diante da reação do mercado. Repetiu diversas vezes que Roberto Campos Neto estava usando o Banco Central para boicotar o seu governo e indicou como substituto um diretor que votou quase sempre igual a Campos Neto. Finalmente, Lula encomendou a Haddad um projeto de ajuste no crescimento das despesas públicas que, depois de quatro semanas de reuniões ministeriais, se tornou um pacote para reduzir impostos, sem que ainda esteja claro como essa isenção será paga. Desde o fracasso do anúncio do pacote fiscal, o Brasil virou um ativo tóxico no mercado internacional, com dezembro marcando a maior saída de dólares desde a crise cambial de 1998. A cotação do dólar está em R$6,10 porque mesmo dentro do governo os ministros não sabem o rumo que o presidente pretende dar à economia.

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O ano que se inicia será difícil e os problemas imediatos não serão internos, mas externos. O novo mandato de Donald Trump será turbulento e a ilusão do governo brasileiro de que o presidente americano é apenas uma versão temperamental de George W. Bush é estúpida, para dizer o mínimo. Na hipótese mais benigna, Trump vai iniciar uma guerra comercial mundial com efeitos diretos nas exportações. No caso mais maligno, o Brasil será alvo de retaliações em defesa dos interesses das empresas de Elon Musk. O governo e as empresas brasileiras estão despreparados para o tsunami.

A ascensão de autoritários como Donald Trump, que exigem obediência e não parceria de outros países, é o ponto mais visível da montanha de mudanças desde 2010, quando Lula deixou a presidência no auge da popularidade, e 2024, quando gerou uma desnecessária corrida ao dólar por temer perder pontos de popularidade.

Entre o segundo e o terceiro mandato de Lula, o Judiciário passou a legislar, investigar e condenar; o Congresso tomou para si a maior parte do orçamento; as Forças Armadas voltaram a ter sonhos golpistas; Jair Bolsonaro organizou a extrema direita popular; as redes sociais se tornaram a fonte de informação política; as igrejas evangélicas assumiram que querem ditar em lei o comportamento de todos os brasileiros; o mercado financeiro e o agronegócio viraram os mais poderosos eixos da economia; e o Centrão voltou mais forte do que nunca. No mesmo período, perderam poder os sindicatos de trabalhadores, a indústria, a mídia e a presidência da República.

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Nesses dois anos do terceiro mandato, o presidente se isolou nos Palácios do Planalto e do Alvorada como não havia feito nem nos piores dias do Mensalão. Conta-se nos dedos das mãos quais os ministros que têm acesso direto a Lula: Rui Costa, Fernando Haddad, Alexandre Padilha, Alexandre Silveira, o novo xodó Camilo Santana, o assessor Celso Amorim e o “garoto de ouro” do Banco Central, Gabriel Galípolo. Outros ministros só recebem atenção direta do presidente nas viagens. Mesmo quem tem acesso a Lula, reconhece um presidente menos disposto a ouvir más notícias.

Lula recebe poucos empresários e quando o faz, se auto elogia mais do que escuta. A dificuldade de Lula com a elite hoje é comparável com a de Bolsonaro no auge da pandemia de Covid.

Os políticos de situação são unânimes em comparar suas dificuldades de acesso em relação aos mandatos passados – embora muito dessa distância seja uma forma de Lula se preservar de pedidos que não quer ter o desgaste de negar.

Os próximos dois anos vão exigir mais de Lula do que os últimos dois. Será um futuro com um Trump imprevisível, o mercado financeiro desconfiado e economia sofrendo com juros altos. O sucesso de Lula em lidar com esses desafios vai depender de qual Lula vai estar no comando.

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