Não é de agora que o candidato a vice na chapa com Donald Trump, o senador J.D. Vance, é acusado de mentir. Em sua campanha ao Senado por Ohio, em 2022, citou até dizer chega a teoria conspiratória da “Grande Substituição”, disseminada por eixos da extrema-direita e que afirma que, com cumplicidade das elites, a população branca estaria sendo substituída demograficamente e culturalmente por grupos não brancos. Deu certo, ele foi eleito e resolveu dar um passo além.
Na campanha à Casa Branca, Vance eleva com vigor as táticas mais combativas de Trump, comprando brigas com a imprensa pelo caminho e inflamando as já altas divisões políticas nos EUA, como planejado. Como têm a função de falar sobre os supostos malefícios da imigração e dos problemas econômicos do país, resolveu colocar os dois assuntos no mesmo barco e dar voz a uma outra teoria sem pé nem cabeça.
Em meados de setembro, publicou no X, antigo Twitter: “Relatos agora mostram que pessoas tiveram seus pets sequestrados e comidos por pessoas que não deveriam estar nesse país. Onde está o comando das fronteiras?”. A frase seria uma referência aos relatos disseminados por contas de extrema-direita, sem base alguma, de que a comunidade imigrante haitiana em Springfield, Ohio, havia matado e comido pets roubados de moradores da região.
A condenação à mentira veio rapidamente, mas Vance dobrou a aposta, justificando que é possível contar inverdades para provar um ponto. “Se eu tiver que contar histórias para que a mídia americana dê atenção ao sofrimento do povo americano, então é isso que vou fazer”, argumentou.
Na semana da fake news, autoridades municipais responderam a repetidas ameaças de bomba contra prédios públicos na área, incluindo ameaças que invocavam discursos e frases anti-imigração. Algumas escolas locais foram forçadas a fechar por um tempo e o governador de Ohio, Mike DeWine, um republicano que contestou as alegações de Vance, anunciou que teve que mandar um grupo especial de policiais para reforçar a segurança em escolas – tudo por conta de uma mentira.
No debate com o candidato democrata a vice, Tim Walz, no início desta semana, talvez Vance tenha sido completamente sincero em um dos poucos momentos da campanha. Quando questionado sobre as tentativas de Trump de mudar os resultados da eleição de 2020, incluindo a invasão ao Capitólio por apoiadores do ex-presidente, ele respondeu não uma, mas duas vezes: “Estou focado no futuro”. A expressão deixa bem claro os interesses de se posicionar como o herdeiro do magnata para 2024 ou, quem sabe, 2028.