Na reta final da eleição presidencial dos Estados Unidos, Elon Musk se tornou quase onipresente na corrida. Em um comício de Donald Trump no início do mês na Pensilvânia, um dos estados-chave para os resultados deste ano e onde o republicano sofreu um atentado, o bilionário chamou atenção ao pular de alegria usando um boné com o slogan “Maga” (Make America Great Again). Nas redes sociais, ele posta imagens geradas por inteligência artificial atacando a aspirante democrata à Casa Branca, Kamala Harris. E nos bastidores, ele financia um dos maiores comitês de ação política da campanha republicana.
O CEO da Tesla e dono do X, antigo Twitter, virou influência singular na campanha, com ações que vão além das tradicionais contribuições até mesmo dos bilionários mais politicamente ativos do país. Ele é ao mesmo tempo um megafone das ideias de Trump, um mega doador de campanha, um consultor político informal, um influenciador de redes sociais e uma fonte prolífica de notícias falsas e desinformação no X. Ao mesmo tempo, é o homem mais rico do mundo e o dono de uma das redes sociais mais influentes do planeta.
Nos últimos três meses, Musk doou US$ 75 milhões para o America PAC, seu comitê de ação política pró-Trump, segundo registros da Comissão Eleitoral Federal. O grupo se tornou influente na campanha nos chamados swing states – Michigan, Wisconsin, Pensilvânia, Arizona, Geórgia, Nevada e Carolina do Norte –, onde as preferências entre democratas e republicanos se alternam. O dono do X é seu único doador.
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Trajetória de visão política
Musk, 53, diz ter votado em candidatos presidenciais democratas no passado. Embora ele costume se descrever como “libertário”, também afirmava ser “moderado”. Após a pandemia da Covid-19, porém, suas visões deram uma guinada à direita, e este ciclo eleitoral foi o auge da transformação conservadora.
Se reeleito, Trump prometeu fazer de Musk o chefe de uma comissão de eficiência do governo, uma função com a qual o bilionário da tecnologia garantiu ajudará a livrar o país de regulamentações que ele vê como prejudiciais à economia e um obstáculo aos negócios. Seria um baita conflito de interesses, visto que o empresário tem milhões de dólares em contratos com o governo federal, tanto a Tesla como a SpaceX e o X estão sujeitas a regulamentações significativas – e às vezes dispendiosas – relacionadas à proteção do meio ambiente e aos direitos do consumidor.
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Neste ano, Musk trabalha em diversas frentes para ajudar a campanha de Trump.
America PAC
Nos Estados Unidos, desde 2010, grupos que são independentes dos candidatos podem arrecadar fundos, sem limites, e não são obrigados a revelar a origem desse dinheiro. Esses fundos ocultos são conhecidos como Super PACs. Um deles é o America PAC, cujo único doador é Elon Musk, e apoia a campanha de Trump.
O America PAC gastou cerca de US$ 72 milhões (do total de US$ 75 milhões doado pelo empresário) no período de julho a setembro, de acordo com a Comissão Eleitoral Federal, mais do que qualquer outro Super PAC pró-Trump focado em atrair eleitores.
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Agora, o fundo voltou o foco completamente a alguns estados-chave para o pleito deste ano, batendo de porta em porta para registrar e mobilizar eleitores, iniciativa relevante no país onde votar não é obrigatório.
Postagens no X
Musk tem mais de 202 milhões de seguidores no X, antigo Twitter, que ele comprou por US$ 44 bilhões em outubro de 2022. Desde que declarou apoio a Trump, seu perfil virou uma plataforma para promover o candidato republicano.
Algumas de suas postagens contribuíram para a difusão de desinformação e plantaram dúvidas, sem evidências, sobre a possibilidade de fraude no sistema eleitoral. Em julho, por exemplo, ele comentou uma postagem do republicano Mike Johnson, presidente da Câmara dos Deputados, que os democratas incentivam intencionalmente a entrada de imigrantes ilegais no país para que possam votar na eleição.
“O objetivo o tempo todo foi importar o máximo possível de eleitores ilegais”, afirmou.
No mesmo mês, ele compartilhou um vídeo, em que a voz de Harris foi manipulada com inteligência artificial, no qual a democrata se descreve como uma “contratação de diversidade” – como se tivesse se tornado vice-presidente apenas pelo fato de ser filha de pai jamaicano e mãe indiana. Anteriormente, Musk já havia criticado programas de diversidade, equidade e inclusão (DEI, na sigla em inglês), destinados diversificar a representação racial e étnica em empresas.
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O X e outras redes sociais estão sob vigilância intensa desde 2016, quando a Rússia interferiu na eleição presidencial dos Estados Unidos para tentar impulsionar a candidatura de Trump e prejudicar sua oponente, a democrata Hillary Clinton. Mas desde a aquisição da plataforma por Musk, grupos de direitos civis levantaram preocupações sobre os riscos da redução da moderação do conteúdo no X.
Cheques de US$ 1 milhão
Em promessa controversa, Musk afirmou que vai doar US$ 1 milhão por dia em um sorteio entre eleitores registrados nos swing states que assinarem uma petição online do America PAC, sobre o apoio às Primeira e a Segunda emendas da Constituição (que protegem os direitos à liberdade de expressão e à posse de armas).
Não está claro se a ação é ilegal. Críticos dizem que é uma manobra para ajudar a angariar apoio para Trump, oferecendo pagamentos em dinheiro em troca do registro de eleitores que provavelmente o apoiarão – dado que a petição online trata de temas mais caros aos republicados do que aos democratas.
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos confirmou à emissora americana CBS News que recebeu um pedido 11 ex-oficiais republicanos pedindo uma investigação sobre os cheques de US$ 1 milhão.
Musk rebateu as críticas, dizendo: “Você pode ser de qualquer partido político, ou de nenhum, e nem precisa votar” para assinar a petição do America PAC.