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Bastidores e curiosidades da disputa entre Kamala Harris e Donald Trump
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Em corrida acirrada, Trump eleva o uso da mentira como arma política

Declarações falsas vão seguir em frente, concordem os eleitores com as implicações éticas e morais ou não

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 out 2024, 10h34 - Publicado em 23 out 2024, 10h13
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  • Concordem os eleitores com as implicações éticas e morais ou não, a mentira tem suas funcionalidades como arma política. Quem sabe muito bem disso é Donald Trump, que durante seus quatro anos como presidente fez 30.573 alegações falsas ou enganosas, segundo análise do jornal americano The Washington Post. No primeiro ano na Casa Branca eram cerca de seis balelas por dia, chegando a 39 no último ano de mandato. “Eu nunca vi um presidente na história americana que mentiu tão continuamente e tão escandalosamente quanto Donald Trump, ponto final”, disse o historiador presidencial Michael Beschloss em uma entrevista. “Dwight Eisenhower costumava dizer que uma das ferramentas mais importantes que um presidente dos Estados Unidos tem é que as pessoas acreditam no que ele diz”. 

    Embora outros presidentes americanos tenham, claro, mentido para o grande público, nenhum mentiu em tão larga escala. Algumas das mentiras são triviais (e muitas usadas para se promover), outras são mais flagrantes, como a de que a eleição presidencial de 2020 foi “roubada” – demonstravelmente contrária aos fatos, com sérias consequências à confiança pública, mas ganhos partidários excelentes. Uma pesquisa dos cientistas políticos Kevin Arceneaux e Roy Truex mostra que a mirabolante mentira sobre a eleição roubada grudou na cabeça do eleitorado republicano. Seis anos atrás, apenas cerca de 1 em cada 4 republicanos (26%) concordava que milhões de votos fraudulentos foram lançados na eleição de 2016. Agora, 38% dos republicanos — e 47% dos fortes apoiadores de Trump — acreditam que esse é o caso.

    Como vem dando certo, e as pesquisas estão na margem de erro, com uma leve vantagem para Kamala Harris, Trump resolveu dobrar a aposta. Em dois comícios de campanha no estado decisivo da Pensilvânia, há poucos dias, ele proferiu ao menos 40 alegações falsas em cada um deles. Na semana passada, em um evento focado em mulheres, foram 19 mentiras em uma hora, passando por aborto, imigração, inflação e segurança nacional.

    Em um evento realizado por um grupo conservador no final de agosto, Trump afirmou que as escolas estão enviando crianças para cirurgias de afirmação de gênero sem o conhecimento dos pais. Ele disse: “A coisa transgênero é incrível. Pense nisso. Seu filho vai para a escola e volta para casa alguns dias depois com uma operação. A escola decide o que vai acontecer com seu filho.” A campanha de Trump posteriormente teve que se retratar, dizendo não conseguiu encontrar um único exemplo de tal coisa acontecendo em qualquer lugar dos Estados Unidos. Mas, mesmo depois que a campanha demonstrou que não conseguia comprovar a história, ele a repetiu dias depois em um comício. 

    Por meses, Trump contou uma história sobre como “o Congo” esvaziou deliberadamente as prisões para, de alguma forma, fazer com que seus criminosos fossem para os Estados Unidos como migrantes. “Muitos prisioneiros soltos do Congo na África, prisioneiros rudes”, ele disse em um evento em agosto no Arizona. Em um comício em agosto na Pensilvânia na semana seguinte, ele disse: “No Congo, na África: 22 pessoas foram depositadas em nosso país. ‘De onde você vem?’ ‘Do Congo.’ Representantes dos governos da República Democrática do Congo e da vizinha República do Congo disseram à CNN oficialmente que a alegação é ficção, especialistas dos dois países dizem que não viram nenhuma evidência de que seja verdade, e a campanha de Trump ignorou pedidos para oferecer qualquer comprovação. 

    Em 2007, uma pesquisa da Associated Press mostrava que 71% dos republicanos diziam que era “extremamente importante” que os candidatos presidenciais fossem honestos, semelhante a 70% dos democratas e 66% dos independentes. Hoje, o número gira em torno de 63%. 

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