Furacão Milton vira ponto de batalha política entre Trump e Kamala
História americana mostra que gestão de desastres pode impulsionar ou destruir campanhas presidenciais
Furacão com a intensificação mais rápida já registrada pelo Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos, com ventos que chegaram a quase 290 km/h, Milton deve tocar solo do estado americano da Flórida nesta quarta-feira, 9. Com previsões de ondas de 3 a 4 metros na Baía de Tampa, uma área densamente povoada, não era difícil de imaginar que o fenômeno viraria um ponto central de disputas na campanha à Casa Branca.
Historicamente, a gestão ruim para lidar com os efeitos do furacão Katrina, que atingiu Nova Orleans em 2005, ajudou a destruir o segundo mandato do presidente George W. Bush. Uma gestão vista como melhor do presidente Barack Obama durante a tempestade Sandy, que atingiu o país em 2012, ajudou a diminuir o crescimento do republicano Mitt Romney na eleição daquele ano.
Para Donald Trump, candidato republicano na corrida presidencial, o desastre pode ser um momento perfeito para diminuir a liderança de três pontos percentuais de Kamala Harris. Para a democrata, o Milton pode ser um holofote difícil de ser dominado, mas útil para mostrar capacidade de expressar empatia pelas vítimas e seu comando da máquina do governo federal. O teste dela será complicado pela probabilidade de que, mesmo que o esforço federal seja bem executado, seu principal adversário certamente inventará uma história.
Assim como fez com o furacão Helene, que atingiu a Flórida e a Carolina do Norte há duas semanas e matou mais de 200 pessoas, Trump aproveitou o momento para reforçar a narrativa de que Joe Biden e Kamala Harris seriam incompetentes na entrega de ajuda e teriam ignorado áreas republicanas (mesmo quando membros de seu próprio partido em áreas afetadas dizem o contrário).
Trump ainda alegou, sem apresentar provas, que Kamala havia estourado o orçamento da Agência Federal de Gestão de Emergências para abrigar migrantes sem documentos e, portanto, não poderia ajudar as vítimas da tempestade, dando força à retórica já inflamatória sobre o tema.
Ele negou, claro, que esteja politizando um desastre: “Tudo que eu faço, eles dizem que é político”, afirmou em entrevista à Fox News na segunda-feira. “Se faço algo bom, não importa o que eu faça, eles dirão que eu fiz pela política”.
Kamala e sua campanha, claro, também não evitaram o assunto e foram contundentes em suas respostas, atacando Trump repetidamente nas redes sociais, mostrando clipes do magnata falando sobre o Helene em comícios e dando destaque às falas de ex-funcionários do governo republicano que o acusam de ter tentado reter fundos de ajuda humanitária para desastres em estados democratas.
“Temo que ele realmente não tenha empatia em um nível muito básico para se importar com o sofrimento de outras pessoas e então entender que o papel de um líder não é derrotar as pessoas, é elevá-las, especialmente em tempos de crise”, disse a candidata democrata em entrevista durante a semana.
Enquanto isso a politicagem é feita, autoridades ordenaram a evacuação de 5,5 milhões de pessoas nas áreas que estão na rota do furacão, esperando estragos piores do que do último fenômeno que passou por lá.