Era o mundo em ebulição. Em 1968, num contexto da livre experimentação de drogas, do aparecimento da mini-saia, da pílula anticoncepcional, do psicodelismo, do feminismo e dos movimentos estudantis, os Estados Unidos viveram uma de suas eleições mais agitadas até então.
O então presidente Lyndon Johnson, do Partido Democrata, desistiu de buscar a reeleição no meio das primárias, a apenas 219 dias da votação, pressionado por uma onda de protestos contra a guerra no Vietnã. Foi uma confusão que abriu caminho para a vitória do republicano Richard Nixon, mas, antes disso, Martin Luther King Jr., símbolo da luta contra a segregação racial, e Robert F. Kennedy, um dos democratas que iniciou campanha para a Presidência depois de Johnson deixar a corrida, foram mortos a tiros num intervalo de dois meses.
Esse pleito, emoldurado por turbulências e um desgaste do tecido social, foi o primeiro que VEJA acompanhou, após ser fundada em setembro daquele mesmo ano.
Quase seis décadas depois, a atual corrida pela Casa Branca encontra muitos paralelos em 1968. O democrata incumbente, Joe Biden, também desistiu da reeleição – 107 dias antes da votação, menos da metade de Lyndon Johnson –, e o candidato republicano, o ex-presidente Donald Trump, foi alvo de um ataque a tiros durante um comício eleitoral na Pensilvânia e de uma “aparente tentativa de assassinato”, como definiu o FBI, enquanto praticava golfe em seu campo na Flórida, num intervalo de dois meses.
O quadro hoje lembra o nível da violência e eventos extraordinários em série de 68, mas tem suas peculiaridades, uma vez que a polarização que cinde o país mudou de natureza — se nos anos de 1960 ela ficava circunscrita à política, agora adentra todos os terrenos.
Para entender e analisar esse momento singular, quase exatos 56 anos após a primeira edição impressa, VEJA estreia um blog totalmente dedicado às eleições americanas. O objetivo é oferecer um olhar diferenciado para o pleito nos Estados Unidos com análises, perfis de personagens importantes da corrida eleitoral e fatos inusitados que podem ser decisivos na disputa.
Embora a chegada da vice-presidente Kamala Harris, após a desistência de Biden, tenha energizado a corrida, ambos candidatos estão longe de garantir a maioria no Colégio Eleitoral – sistema em que cada estado recebe um certo número de votos baseado no tamanho de suas populações. Com o eleitorado rachado ao meio e uma ínfima minoria ainda se declarando indecisa (fala-se em 200 mil votos que decidirão o resultado em sete swing states, aqueles onde a preferência entre democratas e republicanos se alterna), cada movimento da dupla, a partir de agora, será um clique, um meme, um post e uma alteração para cima ou para baixo nas pesquisas.
De acordo com o agregador FiveThirtyEight, até o domingo 22, Harris está só 2,9 pontos à frente de Trump na média das pesquisas nacionais e praticamente empatada com ele nos sete estados decisivos para o pleito — Wisconsin, Michigan, Pensilvânia, Nevada, Geórgia, Arizona e Carolina do Norte. Enquanto ela concentra esforços para converter indecisos nos quatro primeiros (em especial na Pensilvânia, o swing state com maior número de votos do Colégio Eleitoral), ele aparece ligeiramente à frente dela nos outros três estados.
O modelo de previsão dos resultados da revista britânica The Economist dá a Harris uma chance de 3 em 5 de vitória. Já Trump teria 2 em 5. Tudo indica que esta deve ser uma das disputas mais renhidas na história eleitoral americana – se não a mais acirrada.
De olho no pleito marcado para 5 de novembro, daqui 43 dias, VEJA planeja ainda uma cobertura específica com um enviado especial aos Estados Unidos, um programa em vídeo e intensificação de reportagens no site e na revista. Para não perder nenhuma análise e ficar por dentro da corrida à Casa Branca de 2024, acompanhe o blog VEJA Eleições EUA.