10 anos do Porta dos Fundos: quando o canal de humor irritou a esquerda
Sucesso de público, o perfil no Youtube ultrapassa 7 bilhões de visualizações. E já foi acusado de machismo, gordofobia e etarismo
Completando uma década de atuação, o Porta dos Fundos foi fundado por Antonio Tabet, Fábio Porchat, Gregorio Duvivier, João Vicente de Castro e Ian SBF. Conhecido pela sátira comportamental, além da crítica social e política, o canal no Youtube agrega vários sucessos que caíram na boca do povo. A produtora venceu o Emmy Internacional de Comédia em 2019, pelo polêmico Especial de Natal criado para a Netflix. Em dez anos, se tornou referência em entretenimento em multiplataforma, atuando em séries, filmes, branded content, entre outros. Mas nem tudo é impecável nessa trajetória.
O Especial de Natal: a Primeira Tentação de Cristo retratou Jesus como gay (Gregorio Duvivier), que se relaciona com o jovem Orlando (Fábio Porchat), e um Deus mentiroso (Antonio Tabet) que vive um triângulo amoroso com Maria e José. O vídeo sofreu boicote de grupos religiosos de direita – mas também teve ataques vindos da esquerda. Curiosamente, os vídeos de crítica religiosa costumam ser os mais divertidos do canal.
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Em 2020, o vídeo Teste de Covid recebeu diversas críticas de ativistas, que consideraram o conteúdo gordofóbico. O ator Fabio de Luca interpreta um paciente em busca do resultado de um teste para Covid-19, enquanto a atriz Thati Lopes faz a atendente de laboratório que passa orientações médicas por celular. Ela avisa que resultado foi negativo, pois o vírus não conseguiu “resistir ao seu corpo podre” e “morreu abafado dentro da veia dele”. A ironia a pessoas gordas foi bastante criticado, o que levou o grupo a ocultar o vídeo no canal. Porchat veio a público pedir desculpas.
Ainda em novembro do mesmo ano, o grupo retirou do ar um vídeo que fazia sátira à vereadora mais votada de Curitiba (PR). Na narrativa, um ator homem vestido com roupas femininas comemorava ser a mulher que mais recebeu votos nas últimas eleições. Grupos de esquerda criticaram a obra, classificando-a como machista e misógina. Na mesma época, a capital paranaense elegeu uma mulher como a candidata mais votada da cidade, Indiara Barbosa, 37 anos.
Em janeiro de 2021, nova polêmica. A sátira envolvia uma conversa em aplicativo de videoconferência, entre colegas de trabalho, em que a mãe de um deles (vivido por Fábio Porchat), o interrompia para falar assuntos banais. Estressado, ele respondia como quem falava com uma criança. Os colegas de trabalho o questionam então sobre sua responsabilidade com a mulher de 59 anos (!). Um evidente etarismo, preconceito contra determinada faixa etária.
Em 2015, o Porta precisou se desculpar por transfobia. Num vídeo, um homem fica revoltado ao descobrir que levou para cama uma mulher que não é transexual. “Você passou a noite inteira se passando por travesti”, diz o personagem (vivido por Rafael Infante). “Com essa maquiagem de travesti, em um lugar onde só tem travesti. Na sua testa está escrito: ‘Sou um traveco’”. Foi a vez de Gregório vir a público pedir desculpas…
Apesar dessas “derrapadas”, o Porta costuma ser acusado por grupos de direita de se guiar por pautas identitárias “esquerdistas”. De carona nessa fama, em 2016, divulgaram o vídeo Reunião de Emergência 3 – a delação 2, no qual brincam com acusações de que o grupo seria beneficiado pelo governo petista. No esquete, o investigador Federal (interpretado por Gregorio) interroga um delator (Porchat). Para o policial, só interessam informações contra o ex-presidente Lula, ignorando revelações sobre outros partidos. Foi uma das poucas vezes que os críticos ao canal se sentiram representados – e felizes – com o humor do grupo, que já conta com 17,3 milhões de inscritos no Youtube.