A condenação pós-morte de Ivo Pitanguy por erro médico
Espólio do prestigiado médico terá que pagar 1,2 milhão de reais em indenização; entenda

Um dos cirurgiões plásticos mais respeitados no mundo, Ivo Pitanguy (1923 – 2016) foi condenado em 2017 a pagar uma indenização de 500 mil reais corrigidos desde 2009 – o equivalente a 1,2 milhão de reais – a Ana Teresa Leite Nepomuceno por erro médico. No processo que a coluna GENTE teve acesso, a sentença começou a ser executada em 6 de março desse ano, a partir do espólio do médico, sendo representada por Gisela Nascimento Pitanguy Chamma. Segundo o documento, Ana foi pela primeira vez à clínica de Pintaguy em 18 de novembro de 2009 com o objetivo de realizar uma cirurgia de lifting cérvico facial (que visa ao rejuvenescimento do rosto e pescoço) e pálpebras superiores – procedimento marcado para o dia 10 de dezembro daquele mesmo ano. Após a cirurgia de oito horas, a paciente foi levada para o quarto. Foi quando sentiu dores “insuportáveis na mão direita, que estava muito edemaciada e a palma da mão esverdeada”. Na hora, de acordo com seu relato, os médicos explicaram que a mão havia permanecido embaixo de seu corpo durante a operação, mas que logo os movimentos voltariam ao normal.
No dia 13 de dezembro, três dias após receber alta, Ana voltou ao consultório de Pintaguy para realizar um raio X, visto que as dores ainda persistiam. De acordo com o laudo, Ana estava com “dor e edema em punho na mão direita após compressão”, que, segundo os médicos, logo passaria. Entretanto, no dia 21 de dezembro, a paciente se submeteu a uma ultra-sonografia que constatou que ela estava com “alteração degenerativa da articulação”. Em 7 de janeiro de 2010, ainda com dores e sem movimentos na mão, realizou um eletroneuromiografia (avaliação dos nervos e músculos). O exame revelou que ela foi “vítima de síndrome copartimental”, isto é, por não ter sido tratada logo após a compressão, transformou-se num problema irreversível de perda de movimento e lesão permanente.
Além da perda dos movimentos, a cirurgia causou deformidades em seu rosto. “A requerente constatou que a cirurgia plástica realizada, na verdade resultou em deformidades nas orelhas e assimetria do mento facial. A cirurgia plástica, que prometia rejuvenescimento à requerente, transformou-se em verdadeiro pesadelo, com lesão permanente de seu polegar direito e deformidades faciais e de orelhas”, diz o processo. Devido ao erro médico, Ana precisou se afastar de suas atividades laborais e, ao entrar em contato com Pitanguy, não recebeu atenção necessária. O documento acrescenta que, “nos meses que se seguiram, afastada de seu trabalho, e abatida com os acontecimentos decorrentes da cirurgia plástica, a requerente passou por uma crise depressiva, tendo sido hospitalizada”.
Na época que entrou com o processo, os advogados de Ana, Frederico Antonio da Costa e Everaldo Tadeu Quilici Gonzalez, alegaram que ela estava “em tratamento médico para depressão, com lesão permanente em seu polegar da mão direita e afastada de suas atividades laboriais, sendo que todas as tentativas para solucionar amigavelmente o problema restaram infrutíferas”. Procurados pela coluna GENTE, Frederico e Everaldo não quiseram se manifestar. Pitanguy morreu um ano antes de ser condenado e a execução da sentença começou em 6 de março. O espólio do médico está sendo representado pelos advogados Leandro D´alessio e Manoel Giacomo Bifulco.
Além de cirurgião plástico, Pitanguy foi professor e escritor brasileiro, membro da Academia Nacional de Medicina e da Academia Brasileira de Letras (ABL). Em 2008, New York Magazine se referiu a ele como “o rei da cirurgia plástica”. Foi pioneiro em sua área, desenvolvendo uma importante escola, com pacientes de várias partes do mundo, além de alunos que o procuravam para aprender o ofício médico. Suas consultas chegavam a custar 150 mil reais. Entre os famosos que passaram por suas mãos: Sophia Loren, Mick Jagger, Jacqueline Kennedy Onassis, Niki Lauda, Susana Vieira, Marisa Berenson, Marta Suplicy, Gina Lollobrigida, Sonia Braga, Vera Fischer. Voltou-se às vítimas de queimaduras e aos mais necessitados, oferecendo consultas gratuitas, reiterando a importância de uma medicina com abordagem mais altruísta e humana.