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A indigesta relação das escolas de samba com a ditadura militar

Historiador Felipe Vieira analisa o tema-tabu, que maioria das agremiações evita falar a respeito

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 fev 2025, 13h17 - Publicado em 28 fev 2025, 07h00

Apesar da atual fase do Carnaval carioca ser de enredos progressistas, que pedem por respeito a minorias e maior valorização de grupos invisibilizados socialmente, há uma página nebulosa na história das escolas de samba, pouquíssimo discutida: o período da ditadura militar no país. A pedido da coluna GENTE, o historiador Felipe Vieira analisa como os desfiles passaram aqueles anos pela Avenida:

“As escolas de samba são organismos vivos, que constroem seus enredos com base no que acontece ao redor. As discussões e embates políticos que ocorrem no nível macro entram no radar das agremiações. Por outro lado, seus discursos, de alguma maneira, também alcançam a comunidade política mais ampla. Essa escala entre o micro e o macro é aplicável não apenas para momentos históricos considerados progressistas. É fato que as escolas de samba são, por excelência, modelos de questionamento ao status quo. Elas nascem de práticas criminalizadas nas primeiras décadas do século XX, como os batuques nos terreiros de candomblé. Precisavam, de aceitação social e, para tanto, souberam negociar com as instâncias oficiais de poder. Era lugar comum, em plena ditadura do Estado Novo, as agremiações lançarem mão de enredos pautados por forte memorialística da história oficial, como fez a Portela em 1943 com o seu Carnaval de Guerra, sobre a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial. A obrigatoriedade de temas nacionais no regulamento de 1938 foi, inclusive, iniciativa das agremiações em conformidade ao governo ditatorial de clara inspiração fascista. Portanto, a adesão a temas nacionalistas e até mesmo ufanistas, tão em voga durante o regime civil-militar instaurado a partir de 1964, não era uma novidade no histórico de enredos das escolas de samba.

Ao longo dos anos 1960 e 70, por exemplo, os temas levados para a avenida dos desfiles variavam quanto à orientação política. Havia enredos de forte postura crítica, como o lendário Heróis da Liberdade, do Império Serrano, para o carnaval de 1969. A censura do regime rasgou e suturou o samba. O verso ‘É a revolução em sua legítima razão’ foi compulsoriamente modificado para ‘É a evolução em sua legítima razão’. E claro, havia os enredos de orientação política reacionária, em plena defesa das realizações dos ditadores. Talvez o caso mais comentado seja o da Beija-Flor de Nilópolis. A trinca de enredos para os anos de 1973, 1974, 1975 era uma verdadeira ode ao regime. O samba de 1974, (Brasil, anos 2000), por exemplo, fazia clara propaganda à Transamazônica nos versos: ‘É estrada cortando /A mata em pleno sertão’. Antes uma escola considerada “pequena”, a Beija-Flor ganhou notoriedade política justamente nesse triênio. Havia, por parte da agremiação, um cálculo político envolvendo questões de poder, entre as esferas local e nacional.

A Beija-Flor não foi a única a seguir a linha adesista durante alguns poucos anos. No sesquicentenário da Independência, em 1972, um bom número de escolas do segundo grupo e algumas do primeiro trouxeram enredos mais à direita, seja por meio da narrativa vinculada à história tradicional, seja por aberta propaganda ao regime. A escola Paraíso do Tuiuti, por exemplo, conhecida por enredos de forte crítica social nos últimos anos, cantou na ocasião: ‘No céu, no mar, na terra / Tua armada impera / Transamazônica / Obra orgulho da nação / Ordem e progresso / Simbolizam o teu pavilhão’. Ao fim e ao cabo, as escolas de samba são produtos do seu tempo. Considerar apenas os enredos de viés progressista, na trajetória dessas entidades é fechar os olhos para o poder de negociação e contingência histórica em que estão envoltas. Há de se olhar para o espelho com atenção para que o reflexo não fique deturpado”.

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