A maior culpada pelo fim das grandes audiências na TV Globo
Consultor e doutor em Teledramaturgia na USP, Mauro Alencar fala à coluna GENTE sobre novos panoramas do mercado audiovisual

Mauro Alencar, consultor e doutor em teledramaturgia pela USP, autor de A Hollywood Brasileira – Panorama da Telenovela no Brasil, falou com a coluna GENTE sobre o novo panorama de audiência da TV aberta e, em especial, da ainda líder TV Globo, que acaba de completar 60 anos. Se um dia, uma novela alcançou 100 pontos – feito de Selva de Pedra (1972) – o mesmo provavelmente nunca mais será repetido. A título de comparação, o remake de Vale Tudo, esperança da emissora para engajar o público nos 60 anos da empresa, tem mantido média de 22 pontos em São Paulo nas primeiras semanas de exibição. No mesmo período, Mania de você tinha 21,5. Já Renascer, outro remake, contabilizava 25,7.
Leia também: Nos 60 anos da TV Globo, cinco novelas imperdíveis e cinco para esquecer
MONOPÓLIO DA TV GLOBO. “Hoje não existe mais monopólio da comunicação, coisa que a Globo viveu nos anos 70, 80, 90, 2000, até Avenida Brasil, em 2013, e ponto. Por quê? Porque dentro da quarta revolução industrial, que a gente vive hoje, com a sociedade pulverizada, com um consumo pulverizado, plataformas pulando por aí, há inúmeras maneiras de você assistir à TV. O streaming chegou com força total. É humanamente impossível hoje pensar em monopólio. A comunicação de massa não existe mais. Era impossível ter Beleza Fatal (novela da Max) em outros tempos, porque não tinha outra empresa com o poderio da TV Globo. Quem conseguiria montar um elenco com Giovana Antonelli, Camila Queiroz e Camila Pitanga? Impossível”.
AUDIÊNCIA NOBRE. “Vale Tudo, por exemplo, uma história que já foi contada, recontada, trecontada, que está em DVD, que está no Globoplay… As pessoas têm Vale Tudo original (de 1988) na hora que elas quiserem. Agora, nesse mundo fragmentado, pulverizado, essa audiência é streaming, é cinema, é teatro. Os jovens veem um monte de coisa ao mesmo tempo. Você acha que vai ter uma audiência massiva? É claro que não”.
Leia também: O rico material perdido pela Globo em incêndio de 1976 nos estúdios
VINTE E POUCOS PONTOS. “Glória Maria, quando me entrevistou para o Globo Repórter, já naquela época ficou espantada, falou assim: ‘Mas como que é isso? Você fica sentado no sofá vendo a novela?’. Ou seja, a pessoa vê no TikTok, vê uma cena aqui, vê um capítulo lá, mas não acompanha a novela todos os dias. Hoje o que a telenovela alcança é isso aí que tem marcado. É a audiência que vem sendo apresentada nas últimas novelas. Não adianta mais investir milhões. Isso é uma realidade histórica diante das redes sociais e streaming”.
NOVOS AUTORES. “Beleza Fatal foi um sucesso. Raphael Montes não só de um autor novo, como um autor que vende literatura. Ele traz uma estrutura de composição de personagem e teve junto a ele um dos papas da telenovela, Silvio de Abreu. Uniu-se a tradição com o jovem. Com todo respeito aos autores, é importante ter essa composição, onde o bom resultado torna-se mais viável”.
ONDA DE REMAKES. “Nada é infalível. João Emanuel Carneiro ficou traumatizado com a última novela (Mania de você), Glória Perez saiu da emissora… E não é para menos. Não aprecio o remake, a não ser que a obra não exista mais, que se perdeu, foi para a fogueira. Mas se a empresa resolve fazer aquilo, tudo bem, sou a favor da indústria brasileira. Só que a indústria nacional está perdendo o campo no mercado estrangeiro, onde a novela turca e o dorama entraram fortes”.