Internamente, Edir Macedo chamou de “golpe”, mas pode se dizer também que foi o maior revés da história da Igreja Universal em seu projeto de expansão mundial. Religiosos que trabalhavam para a entidade em Angola organizaram uma revolta contra Honorilton Gonçalves, diretor das igrejas de Macedo na África. Ao todo, 320 pastores locais tomaram a administração de 110 igrejas no país (50% do total). Evasão de divisas, racismo e a obrigação de fazer vasectomia são parte da relação de denúncias feitas pelos insurgentes. VEJA entrevistou Dinis Bundo, obreiro da entidade há dezoito anos e porta-voz do levante.
Por que a decisão de romper com a direção da Universal? São muitas razões, que vão desde recebermos metade do salário pago aos religiosos nascidos no Brasil até não ter acesso às casas dos condomínios da igreja. Mas há coisas mais graves. O Honorilton Gonçalves exige a castração de pastores, a vasectomia como forma de todos viverem exclusivamente para a Universal. Para ele, tem de aguentar tudo calado.
Como assim? O Honorilton é um psicopata, não aceita diálogo. Ele tentou aqui em Angola fazer o mesmo script de Moçambique: escorraçar pastores que mostraram posição contrária a ele. Ele mandou arrombar a casa do bispo Bezerra Valente Luiz, que era o número 2 da Universal em Angola e agora lidera o movimento. Desde que iniciamos as reivindicações no ano passado, o Honorilton passou a vender casas, condomínios e terrenos da Universal. Por que acabar com o patrimônio da igreja? Há também o problema da evasão de divisas. Só no ano passado, foram enviados ao Brasil 100 milhões de dólares sem declaração alguma ou registro.
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Clique e AssineA Universal de Angola arrecada tudo isso? Arrecada mais. Tem pastores que compram casas, condomínios, carros… Ou seja, essa quantia poderia ser maior e nem tudo vai para o Brasil. Hoje, estamos com o controle de metade das 220 igrejas de Angola. No país, há meio milhão de fiéis. Mais pastores devem vir para o nosso lado.
O Edir Macedo sabe de tudo? Claro. O Edir disse ao Honorilton para não ceder à pressão e que o povo angolano é corrupto. Eles chegam aqui, são racistas e desfazem da gente — e ainda temos de escutar esse tipo de coisa. As intenções obscuras vão muito além da realidade da fé.
Publicado em VEJA de 1 de julho de 2020, edição nº 2693