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Atriz de beijo lésbico em ‘Vai na Fé’: ‘Meu papel faz bem às pessoas’

Priscila Sztejnman conversou com VEJA

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Giovanna Fraguito Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 15 Maio 2024, 23h51 - Publicado em 15 jun 2023, 14h00

Em seu primeiro papel de destaque como atriz de novelas, Priscila Sztejnman, 35, está no olho do furação em Vai na Fé. Interpreta Helena, uma personal trainer lésbica, em relacionamento amoroso com Clara, vivida por Regiane Alves, 44. Clara, porém, é casada com Theo (Emílio Dantas), com quem vive relação abusiva. O amor entre as duas surgiu aos poucos, mas rapidamente ganhou enorme torcida nas redes sociais, principalmente depois que uma cena de beijo teria sido vetada pela direção de ir ao ar. Em conversa com a coluna, Priscila fala das polêmicas que envolvem os bastidores da trama, além da trajetória como roteirista (ela escreveu Malhação, em 2012, entre outros).

Você anunciou o fim do contrato como autora exclusiva da Globo. Como foi esse momento? Já vinha de um contrato de longo prazo como autora por conta de todos os projetos que venho desenvolvendo. E sabia que o término do contato estava previsto. Muitos autores se desligaram da empresa nos últimos tempos e tive essa data como planejamento. Foi bom, me falaram: “Seu contrato acaba num dia, no dia seguinte a gente quer seguir recebendo seu projeto”. Foi realmente uma abertura de relação, não um fim.

Pretende ir para o streaming? Tenho um cardápio de projetos de filmes, de séries, de programa de variedades. E, desde que anunciei, pessoas do mercado entraram em contato. Tenho muita história e projetos para realizar no mundo.

Como fica a carreira de atriz? Tinha dois contratos, um exclusivo como autora e um de atriz. Estou na novela, a personagem só cresce, é motivo de orgulho para mim.

Como lida com essa repercussão em torno de Helena, sua personagem? Sempre vou defender a importância que ela representa. É uma personagem que me faz muito bem e sinto que ela faz muito bem às pessoas. Muita gente me escreve falando que assiste à novela por causa dela, que a Helena deu uma nova perspectiva para suas vidas, que ela salvou vários de depressão. Há um senso de responsabilidade.

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Quais são seus rituais para “entrar” na personagem? Tenho feito coisas no camarim, Regiane tem brincado com isso. Gosto muito de ir para o corpo da Helena, a personagem está em todas as camadas. Estudo, leio o texto, assisto a filmes e séries, escuto música, uso um cheiro que me remete à personagem… É uma essência de lavanda. E antes de entrar em cena, lá no estúdio, quando já estou pronta, faço um exercício chamado Chi Kung, como um Tai Chi Chuan. É um lugar de esvaziamento, quando decolo na personagem.

A novela também apresenta o relacionamento abusivo da Clara com o Theo, e a Helena vai tentar salvá-la disso. Já esteve em algo parecido? Infelizmente esse é um assunto recorrente entre nós, mulheres. O que me espanta é como esse assunto tem que ser mais presente na roda dos homens, não na das mulheres. Falando com amigas, a gente chegou à conclusão que todas nós já sofremos, já passaram a mão em alguma parte do nosso corpo, ao longo da adolescência… É muito grave, violento, assustador. Quando era adolescente, já passei por situações nesse aspecto, mas na vida adulta, não. A gente tem que educar as crianças desde cedo, meninos e meninas.

Como lida com esse assunto com sua filha, de 4 anos? Rosa vem brincar comigo e falo: “Sempre que for tocar no corpo de outra pessoa, tem que pedir permissão”. E faço isso com ela. Quando ela era menor, sempre que eu ia por exemplo limpá-la, passar pomada ou trocar fralda, pedia licença. Levei isso para a personagem, quando Helena manipula o corpo da Clara, trouxe um pedido de licença, um aviso prévio.

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E a polêmica cena do beijo, como foi? Qual foi o sentimento depois que cancelaram de ir ao ar? Teve uma cena do primeiro beijo delas que foi ao ar antes do capítulo 100, então isso já me trouxe felicidade. A gente não estava no último capítulo da novela e já estava tendo beijo entre duas mulheres. A partir dali fizeram vários memes, inclusive com a cara da Helena após o beijo. Ali foi uma virada na relação das duas. É muito necessário e urgente a gente ver uma personagem mulher, apaixonada por uma outra mulher. Ainda com a metade da novela a ir ao ar. Sou muito otimista com a história delas.

Sentiu-se frustrada pela censura das cenas de beijo? Por enquanto todas as cenas foram ao ar. Não tivemos cenas cortadas, como disseram. Estamos construindo uma relação linda de amor entre duas mulheres, que está cada vez mais conquistando espaço. Sobre o que vai ao ar, sou tão público quanto os que acompanham a novela. Também torço para que essa história siga num crescente lindo e potente.

Você já se relacionou com mulheres também na sua vida pessoal? Tenho um histórico hétero, até hoje só me relacionei com homens. Enquanto atriz, não vejo diferença entre beijar homem ou mulher em cena. Estou construindo a partir dos sentimentos. E, como inspiração, tem um filme chamado Retrato de uma Jovem em Chamas (de 2019). Ele é sobre a relação de duas mulheres, que começa com perspectiva profissional e depois se aprofunda para história amorosa.

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