Há vários aspectos que fazem da novela Mania de Você um problema junto ao público mais fiel e tradicional das telenovelas: personagens repetitivos, tramas ágeis numa tentativa de se igualar às séries e a chamada inverossimilhança com a realidade. A pesquisadora de teledramaturgia Aurora Miranda Leão , doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), na linha de pesquisa Competência Midiática, Estética e Temporalidade, analisa a novela Mania de Você a pedido da coluna GENTE. A seu ver, o maior problema é a inverossimilhança, que pode causar apatia do público diante de tanta agilidade no desenvolvimento da trama.
“Há qualidades, mas as inverossimilhanças estão gritantes. Não é difícil entender por que a audiência está numa linha decrescente. Novela é novela, produto com linguagem própria, ou seja: tem que ter estrutura, essência, semblante, carpintaria, arcabouço, beleza, fôlego e argúcia de novela. Não adianta querer conquistar público de streaming nem fisgar adoradores de doramas, nem tentar enveredar pelo esquema de séries, como os americanos fazem a exaustão – porque novela não sabem fazer; do jeito que a trama está sendo conduzida, de mãos dadas com o superficial e o inverossímil, a descida pra cova será mais rápida. O núcleo de Mariana Ximenes/Thalita Carauta e Eliane Giardini, que seria o lado cômico da novela, está grotesco: é tão fora do provável que beira o ridículo”.
A pesquisadora cita como exemplo de inverossimilhança o recente capítulo que trouxe (Adriana Esteves) Mércia procurando uma casinha numa comunidade para morar. “De repente, surge do nada um ‘bom moço’ que arranja um muquifo para ela ficar – no qual tudo falta e sequer dá pra ligar dois aparelhos na tomada ao mesmo tempo, porque pode dar tilt. Aí ela aceita a ajuda, não questiona nada e, num vapt-vupt, Luma (Ágatha Moreira) bate lá e ela faz mingau para a garota desamparada. Ou seja: os ingredientes surgem e tudo se resolve muito rapidamente”, opina.