A importância de Jô Soares para a cultura brasileira – seja como humorista, escritor, apresentador ou, de forma mais ampla, artista multifacetado – vai além do que se imagina. Como uma pessoa gorda na TV, Jô ocupou um espaço que muitas vezes não se vê, ainda hoje. Ele demarcou um certo pioneirismo, ao se utilizar do humor para criar personagens tão característicos. Algo atípico se pensarmos que são raríssimos atores e apresentadores gordos com oportunidade semelhante na televisão. Dessa forma, a coluna ouviu a psicanalista Joana Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da PUC-RJ, que explica a dimensão de aceitação do corpo gordo no espaço público. Leia sua análise:
“Há dois aspectos: a dimensão da criminalização da gordura e a dimensão do gênero. Jô Soares era uma das poucas pessoas gordas na TV, que não era estimulado a emagrecer. Ele dizia que foi advertido que perderia a graça e, consequentemente o talento, caso emagrecesse. Ou seja, colocaria em risco a carreira, ancorada num lugar social muito bem marcado. Por outro lado, por ser homem, ele foi poupado, porque certamente sendo mulher não seria, como não foram poupadas outras que tiveram que emagrecer enquanto apresentadoras. De alguma maneira, Jô escapou de uma maior criminalização por ser homem. Também pelo seu talento, ele foi fora da curva. Mas a ancoragem na sua figura masculina extrapolou a criminalização da gordura”.