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Como o governo Bolsonaro matou a empatia no Brasil, segundo pesquisador

Alexandre Gossn fala de seu novo livro, ‘Chapados de Cloroquina – a morte da empatia’

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 nov 2022, 12h37 - Publicado em 26 nov 2022, 10h00

Alexandre Gossn, pesquisador do Instituto de Investigação Interdisciplinar da Universidade de Coimbra, analisa a filosofia política sobre autoritarismos contemporâneos. Publicou seu primeiro livro em dezembro de 2019, sobre o movimento anti-vacina. Os dois últimos trabalhos são Fascismo pandêmico e Chapados de Cloroquina – a morte da empatia (ed. Autografia). Durante a FLIP, em conversa com a coluna, Gossn falou sobre a experiência recente do governo Bolsonaro (PL) e o que ela desnuda sobre a percepção da sociedade brasileira.

Qual foi o maior desafio ao fazer um livro ainda dentro do momento da pandemia? Foi escrevê-lo como um depoimento, mas ao mesmo tempo, admito que estou perto demais da situação para ser um julgador imparcial. Por exemplo: o nosso presidente é um negacionista. Todo o problema das vacinas, que estamos enfrentando de novo agora, não se resume à vacina da Covid, estamos com problema de retorno da poliomielite, do sarampo, porque existe um pensamento negacionista por trás. Todo o colapso que a gente viu é, na verdade, um colapso humanitário. O livro tenta mostrar em um aspecto amplo que era questão de tempo ter um desastre como esse no país. O país dividido, cultura política horrível, e negando o básico, tendo orgulho da ignorância.

O primeiro a matar a empatia foi o Bolsonaro? Olha, Bolsonaro é um avatar, um sintoma, ele não é a causa. Existem 50 milhões de pessoas que se identificaram com o Bolsonaro no segundo turno. A gente vem de um processo de aniquilação da empatia. Esse processo na verdade tem 500 anos, é típico de toda a sociedade que foi escravista, colonial. Bolsonaro libera as pessoas dessa responsabilidade, quando ele diz: “isso é mimimi”, “é frescura”.

E como ocorre a morte da empatia? Se existisse realmente uma sociedade empática, esses movimentos a que assistimos recentemente não teriam sucesso. Para que esse movimento consiga se alastrar, como se alastrou, precisa de uma sociedade que não se importe com o outro. É o que ocorreu.

É uma característica forte da sociedade brasileira? É uma característica também da sociedade brasileira ser menos empática, por vários motivos. Estilo de vida – nós vivemos cada vez menos de forma comunitária, temos hoje a família unipessoal, a sociedade está se atomizando. Essa empatia decorre do individualismo exacerbado. Quem são nossos ídolos? Elon Musk! O cara compra uma rede social, isso não é legal. Não vejo como algo natural!

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A empatia pode ser ressuscitada? Pode. Existem estudos de psicologia comportamental que detectam que vivemos um período de recessão da empatia, e outros estudos apontam que vivemos também na recessão da democracia, e é algo super casado. Essa recessão da empatia já foi diagnosticada. As pessoas estão sendo conscientizadas.

A experiência dos últimos quatro anos foi crucial para essa recessão? Há algo positivo a se avaliar dessa experiência? O governo Bolsonaro foi, como Wagner Moura falou, pedagógico. Em que sentido? Olhe para a equipe de transição de Lula: você tem a nata do petismo, de funcionários e políticos capazes; e a nata dos tucanos, que nunca estariam juntos, se não fosse o bolsonarismo. Se não fosse a ascensão da extrema direita, eles iam continuar competindo, sem perceber o que tinham em comum. Eu creio que houve uma autocrítica. Isso é muito bacana. Isso já aconteceu ao redor do mundo. O essencial nesta eleição foi preservar a democracia.

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