Da ciência à arte: o camaronês que assina curadoria da Bienal de SP
Bonaventure Ndikung possui trabalho extenso na Alemanha
Nascido em Yaoundé, cidade de Camarões, Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, 48 anos, é uma figura proeminente na cena da arte contemporânea global. Com formação acadêmica em biotecnologia médica e biofísica, Ndikung é curador na 36a Bienal de São Paulo, uma das maiores exposições da área na América Latina. Com a intersecção entre arte e ciência, juntamente com sua visão inovadora, ele é diretor do Haus der Kulturen der Welt (HKW) de Berlim, desde janeiro de 2023, após ter atuado como diretor-fundador do SAVVY Contemporary. Também professor na weißensee academy of art Berlin, Ndikung conversor com a coluna GENTE sobre os projetos abaixo dos trópicos.
Como ocorreu essa conexão com a Bienal de São Paulo? O convite surgiu de forma natural. Para mim, não se tratava apenas de organizar uma grande exposição, mas de criar uma plataforma de encontros, de escuta e de práticas plurais de humanidade. Desde o início, esse processo se deu em colaboração com uma equipe curatorial incrível, o que tornou essa conexão com a Bienal ainda mais significativa: ela não é sobre uma visão individual, mas sobre imaginar coletivamente.
Como fez essa transição da carreira científica para a arte? Para mim nunca houve uma ruptura radical entre ciência e arte. Ambas partem de perguntas fundamentais sobre a vida, sobre o corpo, sobre como habitamos o mundo. Se a ciência procura respostas por meio de dados, a arte se abre ao simbólico, ao poético e ao político. Em minha trajetória profissional, são elementos que caminham juntos.
Quais são os maiores desafios do trabalho de um curador? É justamente equilibrar a escuta e a decisão. Curar não é impor uma narrativa única, mas criar as condições para que múltiplas vozes coexistam — às vezes em harmonia, às vezes em fricção. E há o desafio ético, talvez o mais importante: não reduzir artistas a representantes de identidades fixas, mas reconhecer a importância poética de cada obra e de cada trajetória. No fundo, ser curador é praticar humanidade, no sentido de relação, de cuidado e de imaginação coletiva.
Já tinha visitado o país? Já sim. Há sempre algo novo a descobrir, em cada visita, em cada encontro.