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‘Eu nunca gritei com meu filho’, diz Carmo Dalla Vecchia

Em conversa com VEJA, ator fala dos desafios em família e da novela das 6 da TV Globo

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 27 abr 2023, 07h01

Carmo Dalla Vecchia, 51, vive Érico Requião na novela Amor Perfeito. Na trama, que se passa nos anos 1930-1940, ele é um advogado bissexual não assumido. Por esse motivo, ficará nas mãos da vilã Gilda (Mariana Ximenes). Carmo é casado com João Emanuel Carneiro há 17 anos – os dois são pais de Pedro, 3. Nas redes sociais, ele divide com os mais de 800 mil seguidores parte da rotina com o filho e vídeos de humor. A seguir, o bate-papo com a coluna.

Como o seu trabalho como ator pode auxiliar as pessoas a entenderem e a respeitarem quem é diferente? Existe uma razão fundamental para a gente que faz arte, que é fazer as pessoas questionarem as suas ideias. Isso é uma das coisas mais bonitas que a arte pode trazer.

Como assim? A arte tem contato direto com o coração, ou seja, através do entretenimento, através do afeto, de uma questão guiada pelo coração da pessoa. Tendo a chance de questionar determinados padrões, acho que tem muito mais chance de mudar a percepção delas, do que ficar simplesmente num discurso, tentando brigar para querer mudar o ponto de vista delas.

Há preconceituosos que não mudam facilmente. Sempre acho que, para mudar uma pessoa, para conseguir tocar o coração, não é com agressividade. Se eu gritar com você ou se for rigoroso demais, a primeira coisa é fechar seu coração. Sou a favor do diálogo, de explicar de novo, e de novo, e de novo, justamente para conseguir tentar tocar o coração.

Seu personagem tem um sofrimento interno muito grande, né? Na verdade, esse personagem, pela história que está sendo contada, não posso nem dizer que ele seja gay. Ele é bissexual. Tem envolvimento dele com uma mulher. E por incrível que pareça, isso é uma coisa que eu não sei se todos sabem, mas a pessoa bissexual é a que tem mais preconceito.

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Por quê? Porque sofre preconceito de quem já tem preconceito com os gays e sofre preconceito dos gays, que acham que não existe bissexual. O nível de suicídio dos bissexuais é muito grande, justamente por passar preconceito de todos os lados. Esse personagem bissexual que tem uma história muito bonita. Ele tem a capacidade de discutir afeto, amor, padrões numa década em que não se falava isso.

Apesar de ser uma novela de época, trata de temas atuais, não? Isso. As pessoas que estão vendo essa obra retratada nos dias de hoje, talvez tenham uma chance de conseguir questionar seus padrões. Ontem recebi um vídeo de um cara no metrô de São Paulo sofrendo um ato de homofobia. E o que aconteceu? O vagão inteiro se levantou a favor dele. Começa a existir um consenso de pessoas que começam a querer falar sobre esse tema.

Você parece ser muito paciente? É assim sempre? Sou paciente com criança, com marido, com colega. Olha, paciência é uma coisa que tenho, está no meu sangue, não sei nem dizer porquê. A criança aprende na repetição. Muitas vezes, vejo pessoas dizendo: ‘Não, eu não explicar isso de novo’. No meu caso, vou explicar isso de novo, e de novo, e de novo…

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Faz isso com seu filho em casa? Meu filho, tenho que repetir várias vezes, criança gosta de repetição, gosta da mesma história, quer a mesma piada, quer que você pegue no colo e repita o mesmo movimento. Tem que ter muita paciência para isso. Eu nunca gritei com meu filho, já teve momento que eu [respirada fundo] gritei internamente. Entendo um pai que grita com o seu filho, mas tenho a sorte de ter uma paciência gigantesca.

Muda muito a rotina em casa com gravação todos os dias, em relação ao filho? Muda, porque tem horas que eu o vejo de manhã saindo para o café da manhã, que a gente geralmente toma junto. E aí quando chego em casa, ele já está dormindo. Aí acaba não dando todo tempo que gostaria de dar a ele, mas também não me culpo por isso.

Compensa depois? Sim, no outro dia. Criança é um termômetro muito certo, sei quando fiquei um tempo sem ele. Primeiro sinal de uma criança, quando ficou pouco tempo com ela, você bota ela para dormir e não dorme. A criança cansada quer tanto ficar com você, que não consegue desligar. É um excelente termômetro para o pai. Botou a criança para dormir e a criança não dormiu? Ela está precisando mais de pai ou de mãe.

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