Exclusivo: Depoimentos expõem “cultura do medo” em programa do Faustão
Relatos ouvidos por VEJA demonstram a insatisfação de funcionários da atração
Após entrevista do diretor Alberto Luchetti a VEJA, na qual relatou que Faustão fazia assédio moral com os funcionários do Domingão, na TV Globo, a coluna ouviu com exclusividade depoimentos de pessoas da equipe do Faustão na Band. Os mesmos reforçam que o assédio era recorrente também na emissora paulista. Em todos, foi pedido sigilo de fonte, para que não sofram retaliações internas. Além do clima de medo constante pela baixa audiência, haveria nos bastidores um temor generalizado pela presença que o próprio apresentador impunha no dia a dia.
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“Era um clima muito pesado. Havia ali a cultura do medo. As pessoas têm muito, muito medo do Fausto. As demissões aconteciam de forma inexplicável, muita gente competente era desligada sem nenhum motivo. Nunca houve condição do programa dar certo, todos tinham essa consciência. Fausto não falava com a produção, mal sabe o nome dos sete ou oito diretores que trabalhavam com ele”, relata uma das produtoras do programa.
Um segurança ficava o tempo todo na porta do camarim – algo que não se repete em outras atrações da Band. Faustão descia do carro e ia direto para o camarim, mas antes o caminho por onde passaria era interditado. Os diretores ficavam na porta esperando serem autorizados a entrar. “A fisionomia deles era como se estivessem prestes a entrar na jaula de um leão”, diz a produtora que presenciara esta cena, bastante corriqueira. Lá dentro era um ambiente tenso. Faustão falava e todo mundo ficava de cabeça baixa ouvindo, com medo. Às vezes saía um desabafo como: ‘Eu nunca quis fazer programa diário, foi uma loucura dos libaneses’ (em referência à família Saad, dona da emissora).
CAMARIM RESERVADO. Aparentemente os únicos que tinham livre acesso ao camarim eram os diretores Cris Gomes, Beto Silva e Renato Moreira, além do filho, João Guilherme, e de Anne Lottermann. Cris teria comentado certa vez, conforme relato da fonte, antevendo broncas do chefe pela minguada audiência: “Nossa, gente, eu tô suando frio. Estou até com dor de barriga de medo de encarar o homem hoje”.
Mas uma das pessoas da produção afirma que ele abria algumas exceções em seu espaço reservado. “As bailarinas tinham livre acesso a ele. O que gerava um problema a mais na equipe. Se alguma bailarina pegasse algo que você falou, podia levar para ele. Se dependesse dele, era bailarina na produção, bailarina na direção… Era um campo minado o bastidor. A cultura do medo vem daí. Tiraram uma bailarina do balé para fazer parte da produção, porque ela começou a namorar o Renato. Isso chocou todos os profissionais, gente qualificada, com anos de experiência em TV. Ninguém duvidava que ia virar diretora, caso o programa vingasse”, diz a fonte ouvida pela coluna.
O apreço pelo seu corpo de bailarinas pode ser sentido neste relato de outro ex-produtor: “Ele trocava as meninas de vez em quando. Às vezes era por implicação dele: ‘Essa não está sorrindo’, ‘essa está gorda’. Teve até um episódio que deu correria. Uma bailarina reclamou com ele que estava com dor no pé, que o sapato machucava. Ele ordenou que comprassem de imediato sapatos novos para todas elas, pouco antes do ao vivo”. A surpresa foi geral quando, por ordem da direção, veio a demissão de todo o balé em dezembro. Apenas quatro delas se mantiveram, reescaladas para cargos de produção.
NEPOTISMO. Funcionários próximos ao apresentador comentam que o nepotismo sempre existiu em suas relações profissionais. Na TV Globo, por exemplo, os sobrinhos Felipe Giuntini e João Paulo compunham a produção, a mulher Luciana como roteirista, uma amiga da Luciana de auxiliar… “Ele demitia pessoas para colocar a esposa de um publicitário que trouxesse anunciantes, por exemplo”, diz a produtora. Cris Ladeira trabalhava no setor de publicidade, e não demorou para que ele arrumasse uma função para o filho dela. Depois deu um jeito de pôr Marina Sanvicente, namorada do diretor Ricardo Waddington na época, para ser figurinista.
O sobrinho e a mulher foram levados para a Band, assim como é sabido que seu filho se tornou seu assistente e depois substituto diante das câmeras. A irmã Leonor chegou a compor a direção, dispensada depois da primeira grande crise, em março de 2022, mas logo promovida ao núcleo de dramaturgia da emissora. “Se fosse preciso demitir para agradar alguém, ele fazia, sem qualquer escrúpulo, sem pensar na competência. Somente para atender interesses dele”, reforça a funcionária ouvida por VEJA.
ESTRANHAS CORTESIAS. A cada três meses o apresentador oferecia um jantar para toda a equipe de produção num restaurante de São Paulo. Nesses encontros aparentemente amistosos, o cardápio era fechado: entrada, prato principal e sobremesa já definidos por ele, que ia passando de mesa em mesa para distribuir sorrisos e “boa noite”. Muitos (a maioria não lidava diretamente com ele) tinham naquela oportunidade a chance de se aproximar e registrar sua presença com selfies. “Era quando dava a falsa impressão de que ele é da ‘galera’: ‘Ah legal, ele paga jantar para o pessoal’. Não! Ele não conhecia ninguém daquelas mesas. No dia a dia, era um grande desprezo pelo trabalho dos profissionais”, relata o ex-funcionário presente nestes jantares.
As “cortesias triviais” se davam também de outras maneiras. Como ao doar aos diretores roupas que não usava mais. Faustão teria o hábito de pôr os figurinos num saco preto de lixo. “Quando alguém saía com um saco, todo mundo comentava: ‘Ah, Fausto trouxe o lixo dele de presente’. Isso é muito simbólico. Por que não trazia algo numa bolsa de uma loja? Aquelas roupas horrorosas! E depois ainda perguntava: ‘Cadê a blusa que te dei?’. Ele obrigava os diretores a usar suas roupas pavorosas, de número maior. Ficava perguntando o tempo todo só para constranger”, relata a produtora.
Procurada para comentar as denúncias de assédio moral em seus estúdios, a assessoria da direção da Band e do Faustão não se manifestou até o momento.