Há 13 anos, Giovanna Nader, 38, especialista no mercado da moda, começou a fazer uma simples troca de roupas que não eram mais usadas. O que era para ser uma renovação no armário fez com que ela investisse na moda sustentável, uma “virada de chave” como a mineira de Araguari descreve à coluna GENTE. O ativismo ambiental começou com mudanças em casa, mas foi expandindo, especialmente com o nascimento da primeira filha, e chegou ao teatro. Atriz desde os 12 anos, Giovanna levou o tema para a peça És Tu, Brasil?, que está em cartaz até 27 de outubro, no Futuros, no Flamengo, Rio. A artista detalha sua trajetória, fala sobre a relação com o ator Gregório Duvivier, com quem é casada há sete anos, e revela planos para entrar na política.
Qual é a história de És tu, Brasil? A gente reconta uma biografia política do Brasil pelo olhar climático. O roteiro começa em um futuro distópico no Rio, a cidade toda submersa, e vai regredindo até o passado, passando pela ditadura e invasão portuguesa. Além de ser peça ambientalista, é uma aula de história na qual a gente passa por personagens canônicos e não canônicos. Canônicos a gente chama sátira, tem Dom Pedro totalmente satirizado, mas tem também esses povos invisíveis, que a gente sabe que estão defendendo a floresta com unhas e dentes.
Como nasceu És tu, Brasil? É um projeto que faço há três anos, junto com o diretor Fernando Nicolau e o dramaturgo Thiago Scarpat. Começamos a ideia durante a pandemia, a gente se encontrou online para fazer a pesquisa e foi nascendo. Até que chegou em 2024 e decidimos que não dava mais para esperar, o mundo está em colapso.
Como surgiu o ativismo ambiental em você?
Veio há 13 anos, quando criei um projeto de troca de roupa em São Paulo. A gente trocou mais de 100 mil peças gratuitas. Na época, estava envolvida em moda, mas acabei fazendo, sem saber, moda sustentável. Depois, quando tive a minha primeira filha, Marieta, de 6 anos, entendi a urgência da questão do clima. No lugar de uma leoa, busquei maneiras de defender essa geração que vai sofrer as consequências.
Como uma ativista, como a senhora é dentro de casa? Já fui muito mais rigorosa. Teve uma época em que não deixava entrar plástico na minha casa, minhas filhas só usavam fraldas ecológicas, e fui ficando neurótica. Depois fui entendendo que não era este caminho. A consciência individual é importante, mas a gente tem limites. Muitas vezes, vou em feiras orgânicas, mas também recorro ao supermercado. Hoje procuro equilibrar, já fui muito mais bitolada, e isso me levou ao sofrimento. E a mudança tem que vir de cima para baixo. Não vou ficar me culpando por usar embalagem plástica, sendo que é um sistema.
Como vê o futuro? Já fui mais otimista. Tento olhar as pequenas conquistas, como as últimas eleições. Tivemos um avanço da extrema-direita no Brasil, mas também temos ambientalistas entrando como nunca antes. Muitos vereadores indígenas, por exemplo. Tento me apegar a essas pequenas coisas. Só de falarmos sobre o assunto hoje em dia já é um avanço grande, mas não sei se é tarde demais.
Como vê o trabalho do governo federal no combate às queimadas? Gosto muito da Marina Silva e da competência dessa mulher enquanto ministra do Meio Ambiente. A gente sabe que essas queimadas, em sua maioria, são criminosas e incentivadas pelo último governo. O governo atual está fazendo o possível e vejo Marina como aliada. Apesar de preocupada, saber que ela está ali olhando para isso me acalma muito. Ela é uma mulher extremamente sensata e sempre à frente do seu tempo.
Já pensou em entrar para a política? Amo política. É um dos assuntos que mais gosto. Meu pai é muito político, o Greg [Gregório Duvivier] também. Gosto deste lugar de fazer articulação, como apresentar vereador que gosto para amigos ou receber na minha casa. Tem que ter muita coragem e disposição, entrar de cabeça é complicado, ainda mais com filhas pequenas. Mas posso mudar de opinião. Quem sabe no futuro? Gosto muito.
E a senhora segue trabalhando com moda?
Sempre pesquiso sobre moda sustentável, inclusive tenho um livro que lancei há três anos. Através da roupa, a gente fala de descarte, excesso, consumismo, poluição dos rios e trabalho escravo. Todo mundo usa roupa, a gente pode falar de questões ambientais por esse mercado da moda.. Aqui em casa todo mundo anda na linha. A gente faz a limpa no armário de tempos em tempos.
Gregório Duvivier te apoia no ativismo ambiental? Sim. Ele está bem apavorado com tudo o que está acontecendo. Esse assunto está presente nas nossas discussões quase diariamente. No início, chamava mais a atenção dele, mas hoje ele está consciente. A gente adora feiras pequenas, onde compra de quem faz o alimento.
E como é ser casada com um comediante? Ele é uma pessoa engraçada como qualquer outra. Também é sério, tem raiva e fica bravo. Mas o Gregório é parceiro.