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O motivo por trás do apoio maciço de cantores sertanejos a Bolsonaro

Uma conversa com o pesquisador musical André Piunti sobre o comportamento político do grupo que reúne de Sérgio Reis e Zezé Di Camargo a Gusttavo Lima

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 jun 2022, 19h29 - Publicado em 31 Maio 2022, 08h00

O grupo dos cantores sertanejos é o que mais tem se posicionado a favor do governo Bolsonaro (PL): nomes como Gusttavo Lima, Zezé Di Camargo, Amado Batista, Sérgio Reis, além de duplas como Bruno & Marrone, João Neto & Frederico, Henrique & Juliano e Teodoro & Sampaio… A dupla Mateus & Cristiano chegou a lançar um jingle para a campanha presidencial. Enquanto a maior parte dos artistas se coloca contrária ao atual governo, os cantores e duplas sertanejas o defendem – de olhos fechados e microfone em punho. Um dos mais respeitados especialistas em música sertaneja no país, o pesquisador e crítico musical André Piunti conversou com VEJA para desvendar o comportamento político que ronda o gênero. Confira o bate-papo:

Por que os sertanejos pensam tão à direita?

Eles são bastante conservadores, principalmente quanto a costumes. São, em maioria absoluta, pró-Bolsonaro e vão se manter assim até as eleições. Não acredito numa reviravolta. Eles pensam como a direita no que se refere à ideologia de gênero, não têm cabeça aberta como o pessoal da esquerda, e isso os incomoda.

É uma questão de machismo e homofobia?

A questão comportamental pesa mais do que teoria econômica ou ideologia no sentido mais amplo. É uma galera criada no interior do país, que gosta das coisas no sentido “isso não entra na minha casa”. Eu até pensava que alguns mudariam de lado. Mas, depois das polêmicas envolvendo Zé Neto e Gusttavo Lima, acho que ninguém mais vai mudar.

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Mas muitos dos que apoiam o atual governo já foram pró-Lula no passado. Os sertanejos não são fiéis?

O cantor sertanejo sempre foi próximo de quem está no poder, é movimento atrelado a apoiar quem está no poder. No passado, todo sertanejo era associado a Fernando Collor. Basta lembrar as famosas festas na Casa da Dinda. Depois a Lula… E agora a Bolsonaro. Sérgio Reis é um exemplo disso. Tirou foto com Lula e hoje aparece em lives do Bolsonaro! Zezé Di Camargo é outro que já esteve nos dois lados. Além disso, sertanejo faz muito show em prefeituras. Ninguém quer perder essa…

A relação dos sertanejos com Lula também era forte, não?

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O sertanejo universitário surge no governo Lula, por causa do aumento do poder de compra das classes mais baixas. Não havia esse ódio. Mas a ascensão das redes sociais faz você ter que pensar em que lado está e se posicionar de acordo com o que o povo demanda. Isso nem me parece moda, é reflexo da internet. Ou se está de um lado ou de outro. “Então vou estar junto com o meu público”, que é conservador!

O que pensa sobre o movimento que pede a CPI do sertanejo?

Não cansam de me marcar nisso no Twitter. Acho que o movimento só reforçou a autodefesa deles. É algo como: “Então beleza, vocês vão falar mal da gente? Vamos reforçar o nosso lado”. É uma questão de comportamento, tanto que é uma opinião hegemônica ali, eles declaram publicamente!

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Até as cantoras sertanejas estão nesse grupo conservador?

É difícil lembrar de alguém que não vota de jeito nenhum no Bolsonaro entre eles. Talvez a Lauana Prado, apenas. Isso porque ela falou de um relacionamento com outra mulher. Mas são casos tão isolados. Maiara e Maraisa, eu não sei, elas nunca falam…

Bolsonaro entre Amado Batista e Marrone, e ao lado de Zezé di Camargo e Flávio Bolsonaro
Bolsonaro entre Amado Batista e Marrone, e ao lado de Zezé Di Camargo e Flávio Bolsonaro // (Reprodução/Instagram)
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