‘O país abençoado por Deus acabou’, diz biólogo sobre mudanças climáticas
VERÃO 50º: coluna GENTE ouve Mário Moscatelli sobre probabilidade de novas tragédias climáticas em 2025

O ano foi marcado por eventos climáticos extremos em todo o mundo. No Brasil, enquanto a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal sofriam com queimadas intensas, enchentes afetaram mais de dois milhões no Rio Grande do Sul. Já no exterior, a Índia registrou uma onda de calor histórica, com temperaturas próximas a 47ºC, furacões nos Estados Unidos e a Espanha com inundações devastadoras que deixaram mais de 200 pessoas mortas.
Nesse cenário de catástrofes quase simultâneas, cresce a preocupação sobre o que esperar de 2025. Porém, para o biólogo Mario Moscatelli, mestre em ecologia e especialista em gestão e recuperação de ecossistemas, nem os mais “poderosos” computadores são capazes de prever o que está por vir. “Os modelos trabalham com probabilidades conforme os dados são coletados, como acontece atualmente com as águas do Atlântico, no Golfo do México, onde a previsão de furacões mais intensos se confirmou diante das águas mais quentes naquela região”, explica o especialista à coluna GENTE, criticando a falta de ação tanto das autoridades quanto da população como um todo.
“Os líderes mundiais e a sociedade tiveram todos os alertas possíveis e imagináveis, desde o fim do século passado, mas não fizemos o dever de casa e fomos reprovados. Enquanto civilização planetária, sabotamos todos os mecanismos de homeostase ambiental”, frisa Moscatelli, referindo-se à capacidade dos ecossistemas de autorregulação para manter condições estáveis, mesmo diante de mudanças externas, como variações de temperatura ou um aumento de poluentes. “Cada um na sua zona de conforto esperando que o vizinho faça alguma coisa. No passado, civilizações desenvolvidas desapareceram localmente por conta do desconhecimento dos limites ambientais. Outras civilizações aprenderam e prosperaram”, acrescenta.
De acordo com o biólogo, é preciso haver investimentos permanentes, principalmente na prevenção, que incluam sistemas de previsão de tempo e políticas habitacionais, com a remoção de moradores de áreas de risco. “As autoridades no Brasil, culturalmente quase que exclusivamente reativas e quase nunca preventivas, precisam se atualizar, pois a festa do ‘país abençoado por Deus’ acabou”, alerta.