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‘País de quem quer se dar bem’, diz Murilo Salles sobre o Brasil

Cineasta lança o filme 'O Turista Aprendiz', baseado na obra de Mário de Andrade

Por Mafê Firpo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 30 mar 2025, 14h00

Murilo Salles, 75 anos, decidiu trazer para o cinema o que ele chama do verdadeiro retrato do Brasil, ao reviver a obra O Turista Aprendiz, de Mario de Andrade. O filme homólogo é baseado no livro de relatos de sua viagem por todo território brasileiro. Fã de carteirinha do escritor modernista, Murilo defende que o Brasil se tornou o país de quem quer se “dar bem”, sem se importar com a veracidade dos relatos. Em entrevista à coluna GENTE, o cineasta afirma que mundo vive em bolhas, com pessoas convivendo apenas com grupos que dividem uma única opnião; no entanto, não se diz crítico dessa nova forma de viver – embora saiba que em sua juventude, “época do sexo, drogas e rock n’ roll”, era muito mais divertido.

Por que fazer um filme sobre o livro O Turista AprendizPorque sou apaixonado pelo Brasil e, como todo apaixonado pelo Brasil, sou apaixonado pelo Mário de Andrade. Quem inventou o Brasil foi Mário de Andrade. Quando Mário escreveu O Turista Aprendiz, dezesseis anos depois de Macunaíma, o relato é muito mais ficcional e experimental da memória dele do que um relato de viagem. Ele não é um clássico relato de viagem, de jeito nenhum. É uma experimentação. Até para quem não conhece Mário de Andrade, nem a obra, o filme é um prato cheio, é muito bom.

E qual é a importância de trazer esse tema aos dias atuais? É importante, de tempos em tempos, retomar, trazer à tona a ideia e um certo elogio a esse homem tão sensível, tão preocupado verdadeiramente pelo Brasil profundo. Hoje a gente virou o Brasil daquele que quer se dar bem. “Dane-se o país, mas eu quero me dar bem”. Mário, não. Ele queria tornar esse país imenso, gigantesco, próprio, com uma identidade própria, com uma alma própria. 

Quando o senhor teve o primeiro contato com a obra dele? Foi adolescente, lendo Macunaíma e depois vendo o filme, estava na faculdade quando vi o filme, tinha dezenove anos, hoje tenho 75. Mário, obviamente, marcou muito a minha geração. Nos anos 1960, 1970, a gente discutia o Brasil todos os dias. É diferente de hoje. Hoje o Brasil fala do Brasil, mas fala de uma forma jornalística, diminuiu-se muito o interesse em dar conta desse país de uma forma mais contundente, mais profunda, mais pesquisada, O Brasil é resolvido na mídia e na relação da mídia com os seus espectadores.

O problema não estaria na visão estereotipada do que é a cultura brasileira? Total. Mas sempre foi um pouco assim. 80 por cento das pessoas veem aquilo que querem ver, é muito difícil você se meter numa coisa que não quer ver, ou que você tenha medo, ou que não tenha interesse… Você só vai procurar aquilo que quer; ou, então, você é muito masoquista. Não existe mais uma preocupação do que é, do que é aquele relato, se há verdade nele… As pessoas não querem se questionar o tempo todo.

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Há uma crise contemporânea do que é a verdade, não? Concordo. A gente quer reforçar e encontrar o grupo do que a gente acha, não quero encontrar um grupo do meu oposto. É um pouco abrir as portas do paraíso para o processo comum, pelo reforço dos egos. Ninguém está afim de procurar a verdade porque o homem, antes de mais nada, é um grande ficcionador. Cristo, por exemplo. O conto da vida de Cristo é ficção. A Bíblia relata uma história construída por milhões de pessoas e é assinada por um tal de Romero. É muito difícil você querer se dedicar a procurar o tempo todo a verdade das coisas, então procura aqueles que afirmam o que você acha.

O senhor já produziu filmes que falam da realidade política brasileira. Faria um filme, por exemplo, sobre o julgamento do Bolsonaro desta semana? Tem um filme, que estou terminando, que é uma história de um PM no Rio de Janeiro e a sua filha. Se baseia nesse processo da relação e acompanha um pouco ele virando miliciano. Mas tenho uma dúvida no coração, se essas coisas que são tão parte do nosso cotidiano, as pessoas querem ver no cinema… 

A corrupção e a violência nunca saem de moda por aqui… E continua pior. Mas isso também, assim, é uma coisa meio que tem no mundo inteiro. Gosto de fazer temas brasileiros. Por exemplo, fiz um filme sobre uma blogueira gaúcha, com o oitavo blog mais visitado no mundo; e o brasileiro era o país que mais tinha adeptos ao Orkut. Esse é um filme sobre o Brasil, mas de uma ótica muito particular.

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Um assunto muito em alta ultimamente é o etarismo. O que o senhor pensa disso? O mundo sofre isso. Os senhorizinhos, sei lá, as senhoras… Os que passam de sessenta anos para frente são muito maltratados pela vida. Desde o maltrato de pensionato, de INSS pelos países, as aposentadorias, como na rua. Você está num metrô, você está ali, velho, cheio de gente jovem sentada e ninguém se levanta para dar um lugar a uma senhora. É muita covardia, é egoísmo, Um absurdo. Aliás, acho todos os ismos um absurdo, mas o etarismo é inteiramente violento. Assim como o racismo, a homofobia, a misoginia… O Brasil é muito violento. Como é que pode um país desse dar certo?

Por fim, como fazer cinema num mundo encantando com as facilidades do streaming? O que os jovens estão perdendo? A Netflix inventou a forma de faturar antes do ingresso, você paga por mês, eles recebem uma fortuna e compram e produzem filmes. O streaming está ao nível de uma inventividade. Por exemplo, essa série Adolescência, ela é impressionante, muito boa… Então continua sendo puramente capitalismo, só muda a forma da cobrança. O streaming passa filmes velhos, novos, maravilhosos, ridículos. 70 por cento da produção do streaming é puro trash. Tem umas coisas engraçadas, as séries que a garotada adora, aquelas da Coreia do Sul.

E qual era a “boa” da garotada da sua época? Sou de uma geração que era sexo, drogas e rock and roll. Sou totalmente da época da revolução cubana, do hippie… E a novidade no mundo hoje é o streaming. Prefiro as novidades da minha época: Rolling Stones, The Beatles, Che Guevara, acho muito mais interessante. Mas é o mundo girando, né? O mundo está virando uber, airbnb e streaming.

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